segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

       ÀG.’. D.’. G.’.A.’.D.’.U.’.

Número três: o número da plenitude


            Neste trabalho de  quinta instrução do Ritual de Aprendiz, pretendo discorrer de forma breve, sobre o número três, trazendo-o a lume dentro de uma perspectiva esotérico-teológica e filosófica. Pretendo destacar alguns elementos importantes que constituem a essência desse número sagrado, evidenciando a relação que ele possui enquanto número de acepção esotérica, sua aplicação dentro do âmbito da teologia e também dentro da filosofia. Reconhecendo a profundidade e inesgotabilidade que tal assunto produziria, pretendo apenas tratar com o assunto de modo sintético, referencial e alusivo a fim de evitar um longo e complexo texto que venha abrir margem para discussões ad infinitum.
            Antes mais nada, convém questionar o tema acima, para melhor nos nortearmos sobre o que objetiva a posição a ser defendida nesse texto. Convém por conseguinte perguntar: por que o número três, seria o número da plenitude?
Ante de se responder essa pergunta, faz-se necessário atentar para o número dois.
            Como podemos observar, na página 232 do Ritual de Aprendiz, uma admoestação  à que o aprendiz evite estacionar seus pensamentos neste número, pois é um número terrível, revelador, o prospecto da desgraça ou do infortúnio. Foi considerado pelas tradições místicas da antiguidade como o número da divisão, da discórdia e da contradição; a essência do INIMIGO ou a revelação do mal.
            O número dois se constitui da dualidade, da oposição, dos contrários. Por esse motivo, fixar o pensamento no número dois é perigoso para quem está iniciando nos degraus da sabedoria, devido ao fato de que o numero dois, possui a característica de conduzir a mente humana ao pensamento binário, polarizado e maniqueísta. Tal modo de pensar é embaraçoso e leva o espírito humano  as zonas profundas da dúvida, do antagonismo e da contradição.
            Justamente por esse motivo, é que o número três, em sua teofania, nos aparece, trazendo calmaria e equilíbrio ao nosso espírito; plenitude. Mas de que modo a mística do número três nos proporciona esses benesses?
            A resposta a essa pergunta pode ser facilmente encontrada se compreendermos o número três como o número da completude, o número que liberta o espírito humano das amarras tentadoras do pensamento bidimensional. O pensamento bidimensional é aquele que leva o espirito humano a pensar a partir de dois polos; como o caso da oposição entre a tese antítese mas sem resolução.
            A falta de resolução que se dá no antagonismo gerado pelo numero dois, quem completa é o número três. Essa completude proporcionada pelo número três é quem dissipa as trevas da dúvida e engano. No número três temos a síntese, que é o resultado da correta aplicação da razão sobre as forças opostas representadas pelo pensamento dialético (  bem e mal, amor e ódio, luz e trevas, etc...), que é extremamente divisor. O número três é um número de natureza divina porque fala sobre a essência do homem, o atributo tríplice da divindade e sua relação com os homens.
            Quanto a natureza do homem, o número três revela a sua estrutura essencial: espírito, alma e corpo.
            Sobre a divindade, temos a manifestação tríplice de Deus, na pessoa do Pai ( e sua natureza paterna na relação com os homens), a pessoa do Filho ( e sua natureza fraterna na relação com o homens) e o Espírito ou Espirito Santo ( e sua natureza arcânico-divina na relação de misterium tremendum do ser de Deus para a mente dos homens).
            Ainda, no número três, temos a onipotência, a Onisciência e a Onipresença da divindade.
            Temos também os três mundos: Interior, exterior e o Divino. Quanto a questão da consciência, temos algo interessante: de acordo com o filósofo brasileiro Miguel Reale, a nossa mente interpreta e organiza o mundo a través de Três setores e não dois, como defendiam os empiristas e lógicos modernos.
            O primeiro setor é o formado pelos objetos naturais, pertencentes  as ciências da natureza ( como Filósofo Alemão Nicolai Hartmann por exemplo). O segundo  setor é o da lógica, da indagação ou da matemática e trata dos objetos ideais, cuja validade não depende de comprovação empírica e cujas ideias não estão no espaço e no tempo. Já o terceiro setor é o formado pelos objetos culturais, que é responsável por toda produção espiritual humana.
            Convém atentar pra um outro ponto  de extrema importância relacionado também ao número três, que encontra-se na página 237 do Ritual de Aprendiz, o qual denominarei, com a devida vênia, como caráter trino da ética humana. Trata-se dos atributos: amor ou sabedoria, vontade e inteligência.
            Para agir com perfeição, o homem necessita dessas três qualidades indissociáveis e indivisíveis.
            Ainda que o indivíduo tenha em sua alma, amor ou sabedoria e não tiver vontade ( vontade entendida aqui como potencia realizadora), suas ações jamais se efetivarão dosadas por esses sentimentos nobres. E ainda, no caso em que o indivíduo tivesse em sua alma o amor ou sabedoria  e a vontade, para potencializar tais predicados, e não tivesse inteligência, os atributos anteriores de nada serviriam, haja vista que a inteligência é quem gerencia a reta condução de todos estes afetos.
            Disto segue que, a alma que conquista a maturidade espiritual e o equilíbrio das ações, deve possuir em seu âmago a harmonia perfeita e o domínio racional desses sentimentos nobres.
            Afim de evitar estender-me, mencionarei  apenas duas relações ( dentre tantas outras existentes) do número três com a pessoa do Mestre de Jesus. Lembramos, de forma mística e esotérica, através da ressurreição de Jesus ao terceiro dia, que o número três é o número do novo nascimento, do ressurgimento- que se dá através da morte do homem profano, resultando em seguida, na ressurreição apoteótica do Iniciado nos Mistérios maçônicos.
             Quero também, referir-me a uma das frases mais famosas verbalizadas por Jesus, que possui uma relação bem interessante com o número três: a expressão: “ caminho, verdade e vida”.



            Estas três palavras foram ditas certa feita, pelo Sábio Jesus, no livro de São João capítulo 14 e versículo 3. Em certa ocasião ele teria dito: “ Eu sou o caminho, e a verdade e a vida(...)”.
A frase pode parecer simples, mas no entanto, trás consigo uma profundidade sem medida, pois refere-se a plenitude da busca do sentido da vida. Destas três palavras proferidas por Jesus podemos extrair três importantes lições intrínsecas a nossa existência.
            A primeira é que quando o Jesus Cristo aponta a si mesmo como “o caminho”, em outras palavras aprendemos que a busca pela verdade é uma busca interior e pessoal, subjetiva, fruto de reflexões e experiências vividas, única e exclusivamente por nós mesmos.
            A segunda lição é que, o homem quando se compreende enquanto caminho, se liberta da alienação e torna-se senhor de si mesmo chegando assim a sua verdade pessoal, sua iluminação.
              E por fim a terceira lição, diz respeito ao caráter prático da verdade e sua relação com a vida. Em outras palavras, faz-se necessário que a verdade seja uma verdade útil para a vida, que lhe traga benefícios e que por fim, esses benefícios rompam a esfera pessoal e subjetiva alcançando uma dimensão de universalidade, contribuindo para o bem da humanidade.
             Assim, com estes pequenos pontos abordados acima, podemos ter uma noção elementar da riqueza mística e a profundidade que o número três abarca, e o motivo pelo qual ele é o número da completude ou plenitude, é justamente o fato de revelar-se como o número da síntese, da resolução,  e harmonizador das três esferas que compõe o Todo da existência :  o mundo interior do homem, o mundo externo e o mundo transcendente; Divino.
É por conseguinte, do número três que o mundo criado é manifesto em sua tridimensionalidade e apresenta em sua essência material a composição tríplice, à saber: a matéria o espaço e o tempo. Sem matéria, espaço e tempo o mundo material não subsiste, pois são elementos intrínsecos e inseparáveis. Só há matéria onde há tempo e só a tempo onde há espaço e vice-versa. Da matéria também surge os três estados; à saber: o sólido, o liquido e o gasoso. Portanto, o número três é o número da completude porque é dele que o mundo criado e o homem são representado em sua natureza tríplice, em seu equilíbrio,  em sua plenitude material e espiritual.

Will Jackson Santos de Oliveira, Apr.’. M.’. Cad. 3.818 da
A.’.R.’.L.’.S.’.  Eliezer Sá Peixoto Nº29  Oriente de Rio Largo/Al., jurisdicionada a Mui e Respeitável Grande Loja do Estado de Alagoas - GLOMEAL)



Referências:  Ritual de Aprendiz, Rito Escocês Antigo e Aceito, 2012

Acessado em: 02/10/2016
Acessado em: 02/10/2016

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