segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017


ÀG.’. D.’. G.’.A.’.D.’.U.’.

As luzes do Evangelho da Civilização

             Nesta  quarta instrução de aprendiz maçom, relativo ao Ritual de Aprendiz ( do Rito Escocês Antigo e Aceito, de 1928) pretendo ponderar de forma breve, sobre o significado da expressão “  [...]luzes do evangelho da civilização[...]”, da página 218, de acordo com seu respectivo contexto, concernente ao legado espiritual que nós ocidentais, herdamos do Oriente. Para tanto, farei um paralelo desta expressão, com um trecho do livro do Evangelho de São Mateus, capítulo 24 e versículo 27, e, como pequeno adendo contextual de desfecho, acrescentarei também o versículo 29 do mesmo capítulo.
            Curiosamente ( e não à toa), vemos  de forma explicita, na página 218 da quarta instrução, em um pequeno trecho, que omite e passa facilmente ao olhar desatento, a tese a respeito da revelação das luzes do evangelho  da civilização Ocidental, e sua importância enquanto legado cultural e espiritual para nós os orientais. É sabido que o processo civilizatório do Ocidente, bebeu e ainda sacia-se de forma intensa nos límpidos mananciais desse arcabouço de conhecimentos milenares, produzidos pelos Orientais.
            Vemos o reflexo da cultura, da política, do Direito e da filosofia Oriental, presentes de forma inescusável quando da efetivação e desenvolvimento das grandes civilizações do Ocidente. O auge da sapiência espiritual e material dos ocidentais são ainda assimilados, difundidos e  representados de forma sólida através de nossas instituições nos dias de hoje. Por esse motivo, é que encontramos na quarta instrução, a justa tese, de que “[...]as Luzes do evangelho da civilização, vieram do Oriente”.
            No entanto, se atentarmos mais detidamente sobre uma menção em particular, de semelhante significado, proferida por Jesus, no livro do evangelho de São Mateus, no Capítulo 24 e no versículo 27, podemos adquirir uma maior compreensão do que poderia significar  estas as “luzes do evangelho da civilização” e qual a sua importância para nós, os ocidentais. Ele diz:
“ Porque assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra no Ocidente, assim será a vinda do filho do homem”.
Na quarta instrução do Ritual de Aprendiz, na página 218, também encontramos algo bem semelhante; temos:  
“ Porque Assim como a Luz do Sol vem do Oriente para o Ocidente, as Luzes do Evangelho da civilização, vieram do Oriente, espalhando-se depois pelo Ocidente” (  Ritual de Aprendiz, Ed. 2012)
            As ideias que compõem ambas as citações são as mesmas, porém, na primeira citação, existe apenas dois elementos que parecem diferenciar uma citação da outra , mas que em sua essência, afirmam a mesma coisa. Em primeiro lugar, a primeira citação, usa a expressão ‘relâmpago’, ao invés de ‘luz do sol’, e  em segundo lugar, usa-se a expressão  ‘ vinda do filho do homem’ enquanto, no segundo caso, temos: “ espalhando-se depois pelo Ocidente”.
            Em todo caso, a ideia central bem como a essência dos enunciados são os mesmos, especialmente, quando esclarecido dois pontos cruciais: a etimologia da palavra Oriente e o significado esotérico de alguns termos presentes em ambos os enunciados. Ao destrincharmos os significados esotéricos de desses termos, logo em seguida, se tornará flagrante em ambos os enunciados, a evidente relação e identificação que eles possuem.
            Por uma questão obviamente cronológica, Jesus é quem primeiro aparece apresentando a ideia de que ‘as luzes do evangelho da civilização vem do Oriente’. A primeira diferença, é que ele usa a expressão “relâmpago”, ao invés de “Luzes”. Apesar da palavra relâmpago estar relacionada a um fenômeno da natureza, ela não é uma ideia dissociada da ideia expressa pela palavra Luz, pois, o relâmpago, para os antigos, era a representação de uma mensagem divina, era também considerado um arauto de Deus. Por este motivo, é que Jesus aplica essa expressão metaforicamente, para dizer, em outras palavras, que, as boas novas do evangelho da iluminação das mente, viriam do Oriente.
             Um elemento interessante, presente em ambos os enunciados, é o termo “Oriente”. Oriente é uma palavra originada do Latim, ORIENS, que significa, lugar do céu onde nasce o sol ou lugar onde o sol surge, aparece. Já a palavra Ocidente, que também é originária do Latim, occidens, significa por sua vez, lugar do céu onde o sol  cai ou se põe. Não apenas por uma questão meramente física e fenomênica, Jesus faz uso dessa linguagem metafórica para profetizar ou antecipar em forma de prelúdio poético, a importância do Oriente na formação cultural e na evolução espiritual dos ocidentais, mas por uma questão  extremamente didática, que o grande instrutor nos revela com antecedência o modo como nós os ocidentais, seríamos agraciados com todo o legado espiritual dos orientais e os adotaríamos como princípios éticos e morais de nosso cotidiano.
            É  imprescindível não esquecer, que Jesus, no final de sua fala, nos diz: “ assim será também a vinda do filho do homem”.  Esta ideia é complementar. A complementariedade dessa ideia, está relacionada ao contexto ao qual esta citação de Jesus está relacionada. Nessa ocasião, onde cristo faz referencia ao relâmpago anunciador da mensagem divina, ele está  relacionando-a ao “fim dos tempos”, e é por esse motivo ele compara o trajeto celeste do relâmpago mensageiro que sai do oriente e vai até ocidente, com a sua  própria vinda, retorno ou chegada. Como o significado do enunciado é metafórico, também, está claro no texto, que a vinda de Jesus, ou do “filho do homem”, como ele mesmo se denominava, se referindo a sua natureza humana, é simbólica. Em outras palavras, é sensato afirmar, que a sabedoria pregada por cristo, encantou o Ocidente e o marcou de forma muito profunda, corroborando assim,  de maneira incontestável, que a missão daquele jovem judeu de pouco mais de trinta anos, alcançou êxito, e por isso as ideias do filho do homem alcançou o Ocidente de maneira incontestável. 
            Ainda há outro ponto bastante interessante, que se coaduna também com o iminente advento do legado espiritual do Oriente à influenciar de sobremaneira o Ocidente. Através de uma observação mais atenta ao significado etimológico da palavra evangelho, do grego, EVANGELION, que significa boa notícia ou boa nova, podemos perceber que, a própria palavra já nos dá pistas riquíssimas sobre a real interpretação deste legado que receberíamos dos orientais. Deles, receberíamos portanto, de acordo com o que a própria etimologia da palavra nos mostra, a boa notícia de sua sabedoria, tão salutar ao desenvolvimento espiritual de nosso povo. A etimologia da palavra evangelho, também nos revela de que modo tal legado seria recebido pelos ocidentais: seria recebido como algo novo e agradável!
            Obviamente, que Jesus não somente se referia a si mesmo, quando afirmava que receberíamos todo riquíssimo legado do espiritual do Oriente, mas também, incluía os outros  Grandes Mestres e pensadores orientais que, assim como ele, revolucionaram o pensamento universal, tais quais: Buda, Zoroastro, Confúcio, Maomé e tantos outros pensadores que, durante os tempos, surgiram com a missão de manifestar ao mundo as luzes da verdade do G.’.A.’.D.’.U.’., com o fim de aperfeiçoar e guiar  a alma de todos os homens.
            Ainda no capitulo 24 do livro de São Mateus, no versículo 29, que é o desfecho do capítulo,  encontramos alguns elementos que definem a natureza peculiar desse legado espiritual oriundo do Oriente. Temos o seguinte:
“ Imediatamente após a tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão abalados”.
Conforme foi explicitado acima, sabemos que as palavras proferidas por Jesus, com relação a manifestação das luzes do evangelho a humanidade, estavam atreladas a um período turbulento que haveria de viger na historia do mundo.  Por isso, ele nos adverte que “imediatamente após a tribulação daqueles dias” os astros não dariam a sua luz.
           Ora, a referencia aos astros; a saber: o sol, a lua e as estrelas, possuem um simbolismo profundo no que concerne ao acervo espiritual do Oriente, como também define qual a natureza de seu farol da virtude; as luzes do evangelho. Basta tão somente atentarmos para o significado dos astros citados, que segundo ele, haveriam de ser ofuscados naquele período turbulento da humanidade. Ele cita o sol, a lua e as estrelas.
            O sol e a lua na maçonaria, representa o equilíbrio e a justa harmonia do trabalho maçônico, que se dá do meio-dia à meia-noite. O Sol  e a Lua quarto-crescente apesar de parecem opostos são complementares, são símbolos do ponto de equilíbrio cósmico e espiritual do homem, que é afetado pelo Sol em seu Zênite, que impõe-se com imponência ao meio-dia, no exato momento em que nasce a Lua quarto crescente a qual se põe a meia noite em ponto. Tal fato, é corroborado pela astronomia! As estrelas, por sua vez, representavam para os antigos, a imortalidade e o conflito eterno entre as forças antagônicas luz e trevas; a luz representando a dimensão espiritual, e as trevas representando as coisas materiais.
            O escurecimento desses astros portanto, figuram um período em que a humanidade, marcadamente, estaria sujeita ao domínio da ignorância, da tirania, do desamor e da intolerância. Tudo o que é oposto a virtude. Apenas a partir do século final do século XVII e início do século XVIII( mais precisamente em 1717), surge oficialmente e com todo vigor, uma instituição augusta, guardiã dos segredos majestosos das Antigas escolas de Mistérios orientais: a maçonaria. Concomitantemente, ao surgimento da maçonaria especulativa, surge um enorme interesse nostálgico pelos valores  e sabedorias pertencentes as grandes civilizações do Oriente, interesse fomentado especialmente pelo movimento iluminista.
            O iluminismo europeu, tenta resgatar os valores morais e éticos, legado pela tradição medieval, privilegiando a razão como principal instrumento de progresso humano, e ademais, difundindo valores humanísticos fundamentais a união entre os homens, como: a tolerância.
            O movimento iluminista, originado na França, foi um marco na luta pela liberdade humana e responsável por nutrir e incentivar as conquistas mais importantes da história da humanidade e o avanço da ciência. O seu lema, nos é bastante conhecido: liberdade, igualdade e fraternidade.
            Vale ressaltar também, que a palavra ORIENTAÇÃO deriva do latim, ORIENS, a junção do radical da palavra, mais o sufixo “ação”.
Nesse sentido, pode-se dizer, que, algumas consequências tiramos do que foi dito acima:
1°  Que o Sol representando a Luz de Deus, o G.’.A.’.D.’.U.’.  nos vêm de modo veemente, com um alarde irresistível, como de um clarão de relâmpago, um visível arauto da vontade divina à iluminar nossos corações e mentes
2º que o Oriente nos presenteia com sua sabedoria milenar e seus mistérios sagrados, por ser ele, o símbolo da vontade de Deus e por ser ele também, aquele lugar especial do céu, onde o Sol se manifesta, onde ele aparece; significando portanto a  imperiosa vontade de Deus sobre nossas vidas
3º que nós, os ocidentais, recebemos do Oriente, a orientação devida, orientação esta, que constitui um tesouro espiritual de valor incomensurável, acumulado durante milênios pelos orientais e transmitidos de forma graciosa a  todos nós.
            Foi percebido e manifesto com antecedência, que o resgate da alma decaída do homem moderno foi protagonizado por intermédio das luzes do evangelho da civilização, preconizada pele espírito iluminado de Jesus. Desse modo, nos limitamos apenas a tentativa de aclarar o sentido mais amplo da expressão “luzes do evangelho da civilização”, a começar com o filósofo judeu, Jesus até a modernidade.
            Por esse motivo, houve um corte intencional e inevitável aqui no texto que ora apresentamos- com a intenção de não ser excessivo no conteúdo- e que no entanto, vale ressaltar, que, conforme pretendi apresentar, “as luzes do evangelho da civilização”, historicamente, atingiram o seu  ápice de manifestação fenomênica através do movimento Iluminista, responsável pela façanha de uma belíssima síntese dos pensamentos e sabedoria do antigos, eliminando o que havia de supersticioso não-racional e convertendo seus saberes sensatos em ciência pura e refinada, regida pelos ditames da razão.
              Do esforço empenhado pelo espírito inquieto das figuras ilustres que a cada dia aderiam ao ideal sincrético do Iluminismo, a humanidade têm avançado na conquista de sua maturidade cientifica, política, filosófica e artística, além de trilhar o caminho da consolidação da tolerância entre os homens de todos os povos e etnias; a fraternidade universal.
             O movimento iluminista apropriou-se do pensamento dos antigos podando-os e conferindo-lhes um caráter especulativo. O resultado dos ideais Iluministas vem se efetivar mais tarde, em importantes conquistas da humanidade, como: os valores ecológicos, os direitos humanos  universais, a efetivação do Estado Laico, a expansão e fortalecimento dos ideais democráticos, a queda do dogmatismo religioso e a valorização da liberdade individual e do pensamento.
             Concluo este texto, com uma frase famosa dita por um famoso filósofo iluminista francês chamado Voltaire: “ Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defendo até a morte o teu direito de dizê-las”.






Referências:


<< http://origemdapala  vra.com.br/site/palavras/evangelho/>>   Acessado em: 19/09/2016

<< https://pensador.uol.com.br/voltaire_concordo/>>   Acessado em: 20/09/2016

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