ÀG.’.
D.’. G.’.A.’.D.’.U.’.
As luzes do Evangelho da Civilização
Nesta quarta instrução de aprendiz maçom, relativo
ao Ritual de Aprendiz ( do Rito Escocês Antigo e Aceito, de 1928) pretendo
ponderar de forma breve, sobre o significado da expressão “ [...]luzes do evangelho da civilização[...]”,
da página 218, de acordo com seu respectivo contexto, concernente ao legado
espiritual que nós ocidentais, herdamos do Oriente. Para tanto, farei um
paralelo desta expressão, com um trecho do livro do Evangelho de São Mateus,
capítulo 24 e versículo 27, e, como pequeno adendo contextual de desfecho,
acrescentarei também o versículo 29 do mesmo capítulo.
Curiosamente
( e não à toa), vemos de forma
explicita, na página 218 da quarta instrução, em um pequeno trecho, que omite e
passa facilmente ao olhar desatento, a tese a respeito da revelação das luzes
do evangelho da civilização Ocidental, e
sua importância enquanto legado cultural e espiritual para nós os orientais. É
sabido que o processo civilizatório do Ocidente, bebeu e ainda sacia-se de
forma intensa nos límpidos mananciais desse arcabouço de conhecimentos
milenares, produzidos pelos Orientais.
Vemos o
reflexo da cultura, da política, do Direito e da filosofia Oriental, presentes
de forma inescusável quando da efetivação e desenvolvimento das grandes
civilizações do Ocidente. O auge da sapiência espiritual e material dos
ocidentais são ainda assimilados, difundidos e
representados de forma sólida através de nossas instituições nos dias de
hoje. Por esse motivo, é que encontramos na quarta instrução, a justa tese, de
que “[...]as Luzes do evangelho da civilização, vieram do Oriente”.
No
entanto, se atentarmos mais detidamente sobre uma menção em particular, de
semelhante significado, proferida por Jesus, no livro do evangelho de São
Mateus, no Capítulo 24 e no versículo 27, podemos adquirir uma maior
compreensão do que poderia significar estas
as “luzes do evangelho da civilização” e qual a sua importância para nós, os
ocidentais. Ele diz:
“ Porque assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra
no Ocidente, assim será a vinda do filho do homem”.
Na quarta instrução do Ritual de Aprendiz, na página 218,
também encontramos algo bem semelhante; temos:
“ Porque Assim como a Luz do Sol vem do Oriente para o
Ocidente, as Luzes do Evangelho da civilização, vieram do Oriente,
espalhando-se depois pelo Ocidente” ( Ritual de Aprendiz, Ed. 2012)
As ideias
que compõem ambas as citações são as mesmas, porém, na primeira citação, existe
apenas dois elementos que parecem diferenciar uma citação da outra , mas que em
sua essência, afirmam a mesma coisa. Em primeiro lugar, a primeira citação, usa
a expressão ‘relâmpago’, ao invés de ‘luz do sol’, e em segundo lugar, usa-se a expressão ‘ vinda do filho do homem’ enquanto, no
segundo caso, temos: “ espalhando-se depois pelo Ocidente”.
Em todo
caso, a ideia central bem como a essência dos enunciados são os mesmos,
especialmente, quando esclarecido dois pontos cruciais: a etimologia da palavra
Oriente e o significado esotérico de alguns termos presentes em ambos os
enunciados. Ao destrincharmos os significados esotéricos de desses termos, logo
em seguida, se tornará flagrante em ambos os enunciados, a evidente relação e
identificação que eles possuem.
Por uma
questão obviamente cronológica, Jesus é quem primeiro aparece apresentando a
ideia de que ‘as luzes do evangelho da civilização vem do Oriente’. A primeira
diferença, é que ele usa a expressão “relâmpago”, ao invés de “Luzes”. Apesar
da palavra relâmpago estar relacionada a um fenômeno da natureza, ela não é uma
ideia dissociada da ideia expressa pela palavra Luz, pois, o relâmpago, para os
antigos, era a representação de uma mensagem divina, era também considerado um
arauto de Deus. Por este motivo, é que Jesus aplica essa expressão
metaforicamente, para dizer, em outras palavras, que, as boas novas do evangelho
da iluminação das mente, viriam do Oriente.
Um
elemento interessante, presente em ambos os enunciados, é o termo “Oriente”.
Oriente é uma palavra originada do Latim, ORIENS, que significa, lugar do céu
onde nasce o sol ou lugar onde o sol surge, aparece. Já a palavra Ocidente, que
também é originária do Latim, occidens, significa por sua vez, lugar do céu
onde o sol cai ou se põe. Não apenas por
uma questão meramente física e fenomênica, Jesus faz uso dessa linguagem
metafórica para profetizar ou antecipar em forma de prelúdio poético, a
importância do Oriente na formação cultural e na evolução espiritual dos
ocidentais, mas por uma questão
extremamente didática, que o grande instrutor nos revela com
antecedência o modo como nós os ocidentais, seríamos agraciados com todo o
legado espiritual dos orientais e os adotaríamos como princípios éticos e
morais de nosso cotidiano.
É imprescindível não esquecer, que Jesus, no
final de sua fala, nos diz: “ assim será também a vinda do filho do
homem”. Esta ideia é complementar. A
complementariedade dessa ideia, está relacionada ao contexto ao qual esta
citação de Jesus está relacionada. Nessa ocasião, onde cristo faz referencia ao
relâmpago anunciador da mensagem divina, ele está relacionando-a ao “fim dos tempos”, e é por
esse motivo ele compara o trajeto celeste do relâmpago mensageiro que sai do
oriente e vai até ocidente, com a sua
própria vinda, retorno ou chegada. Como o significado do enunciado é
metafórico, também, está claro no texto, que a vinda de Jesus, ou do “filho do
homem”, como ele mesmo se denominava, se referindo a sua natureza humana, é
simbólica. Em outras palavras, é sensato afirmar, que a sabedoria pregada por
cristo, encantou o Ocidente e o marcou de forma muito profunda, corroborando
assim, de maneira incontestável, que a
missão daquele jovem judeu de pouco mais de trinta anos, alcançou êxito, e por
isso as ideias do filho do homem alcançou o Ocidente de maneira incontestável.
Ainda há
outro ponto bastante interessante, que se coaduna também com o iminente advento
do legado espiritual do Oriente à influenciar de sobremaneira o Ocidente.
Através de uma observação mais atenta ao significado etimológico da palavra
evangelho, do grego, EVANGELION, que significa boa notícia ou boa nova, podemos
perceber que, a própria palavra já nos dá pistas riquíssimas sobre a real
interpretação deste legado que receberíamos dos orientais. Deles, receberíamos portanto,
de acordo com o que a própria etimologia da palavra nos mostra, a boa notícia
de sua sabedoria, tão salutar ao desenvolvimento espiritual de nosso povo. A
etimologia da palavra evangelho, também nos revela de que modo tal legado seria
recebido pelos ocidentais: seria recebido como algo novo e agradável!
Obviamente, que Jesus não somente se
referia a si mesmo, quando afirmava que receberíamos todo riquíssimo legado do
espiritual do Oriente, mas também, incluía os outros Grandes Mestres e pensadores orientais que,
assim como ele, revolucionaram o pensamento universal, tais quais: Buda,
Zoroastro, Confúcio, Maomé e tantos outros pensadores que, durante os tempos,
surgiram com a missão de manifestar ao mundo as luzes da verdade do
G.’.A.’.D.’.U.’., com o fim de aperfeiçoar e guiar a alma de todos os homens.
Ainda no
capitulo 24 do livro de São Mateus, no versículo 29, que é o desfecho do
capítulo, encontramos alguns elementos
que definem a natureza peculiar desse legado espiritual oriundo do Oriente.
Temos o seguinte:
“ Imediatamente após a tribulação daqueles dias, o sol
escurecerá, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes
celestes serão abalados”.
Conforme foi explicitado acima, sabemos que as palavras
proferidas por Jesus, com relação a manifestação das luzes do evangelho a
humanidade, estavam atreladas a um período turbulento que haveria de viger na
historia do mundo. Por isso, ele nos
adverte que “imediatamente após a tribulação daqueles dias” os astros não dariam
a sua luz.
Ora, a
referencia aos astros; a saber: o sol, a lua e as estrelas, possuem um
simbolismo profundo no que concerne ao acervo espiritual do Oriente, como
também define qual a natureza de seu farol da virtude; as luzes do evangelho.
Basta tão somente atentarmos para o significado dos astros citados, que segundo
ele, haveriam de ser ofuscados naquele período turbulento da humanidade. Ele
cita o sol, a lua e as estrelas.
O sol e a
lua na maçonaria, representa o equilíbrio e a justa harmonia do trabalho
maçônico, que se dá do meio-dia à meia-noite. O Sol e a Lua quarto-crescente apesar de parecem
opostos são complementares, são símbolos do ponto de equilíbrio cósmico e
espiritual do homem, que é afetado pelo Sol em seu Zênite, que impõe-se com
imponência ao meio-dia, no exato momento em que nasce a Lua quarto crescente a
qual se põe a meia noite em ponto. Tal fato, é corroborado pela astronomia! As
estrelas, por sua vez, representavam para os antigos, a imortalidade e o
conflito eterno entre as forças antagônicas luz e trevas; a luz representando a
dimensão espiritual, e as trevas representando as coisas materiais.
O
escurecimento desses astros portanto, figuram um período em que a humanidade,
marcadamente, estaria sujeita ao domínio da ignorância, da tirania, do desamor
e da intolerância. Tudo o que é oposto a virtude. Apenas a partir do século final
do século XVII e início do século XVIII( mais precisamente em 1717), surge
oficialmente e com todo vigor, uma instituição augusta, guardiã dos segredos
majestosos das Antigas escolas de Mistérios orientais: a maçonaria.
Concomitantemente, ao surgimento da maçonaria especulativa, surge um enorme
interesse nostálgico pelos valores e
sabedorias pertencentes as grandes civilizações do Oriente, interesse fomentado
especialmente pelo movimento iluminista.
O
iluminismo europeu, tenta resgatar os valores morais e éticos, legado pela
tradição medieval, privilegiando a razão como principal instrumento de
progresso humano, e ademais, difundindo valores humanísticos fundamentais a
união entre os homens, como: a tolerância.
O
movimento iluminista, originado na França, foi um marco na luta pela liberdade
humana e responsável por nutrir e incentivar as conquistas mais importantes da
história da humanidade e o avanço da ciência. O seu lema, nos é bastante
conhecido: liberdade, igualdade e fraternidade.
Vale
ressaltar também, que a palavra ORIENTAÇÃO deriva do latim, ORIENS, a junção do
radical da palavra, mais o sufixo “ação”.
Nesse sentido, pode-se dizer, que, algumas consequências
tiramos do que foi dito acima:
1° Que o Sol
representando a Luz de Deus, o G.’.A.’.D.’.U.’.
nos vêm de modo veemente, com um alarde irresistível, como de um clarão
de relâmpago, um visível arauto da vontade divina à iluminar nossos corações e
mentes
2º que o Oriente nos presenteia com sua sabedoria milenar e
seus mistérios sagrados, por ser ele, o símbolo da vontade de Deus e por ser
ele também, aquele lugar especial do céu, onde o Sol se manifesta, onde ele
aparece; significando portanto a
imperiosa vontade de Deus sobre nossas vidas
3º que nós, os ocidentais, recebemos do Oriente, a
orientação devida, orientação esta, que constitui um tesouro espiritual de
valor incomensurável, acumulado durante milênios pelos orientais e transmitidos
de forma graciosa a todos nós.
Foi
percebido e manifesto com antecedência, que o resgate da alma decaída do homem
moderno foi protagonizado por intermédio das luzes do evangelho da civilização,
preconizada pele espírito iluminado de Jesus. Desse modo, nos limitamos apenas
a tentativa de aclarar o sentido mais amplo da expressão “luzes do evangelho da
civilização”, a começar com o filósofo judeu, Jesus até a modernidade.
Por esse
motivo, houve um corte intencional e inevitável aqui no texto que ora
apresentamos- com a intenção de não ser excessivo no conteúdo- e que no entanto,
vale ressaltar, que, conforme pretendi apresentar, “as luzes do evangelho da
civilização”, historicamente, atingiram o seu
ápice de manifestação fenomênica através do movimento Iluminista, responsável
pela façanha de uma belíssima síntese dos pensamentos e sabedoria do antigos,
eliminando o que havia de supersticioso não-racional e convertendo seus saberes
sensatos em ciência pura e refinada, regida pelos ditames da razão.
Do
esforço empenhado pelo espírito inquieto das figuras ilustres que a cada dia
aderiam ao ideal sincrético do Iluminismo, a humanidade têm avançado na
conquista de sua maturidade cientifica, política, filosófica e artística, além
de trilhar o caminho da consolidação da tolerância entre os homens de todos os
povos e etnias; a fraternidade universal.
O
movimento iluminista apropriou-se do pensamento dos antigos podando-os e
conferindo-lhes um caráter especulativo. O resultado dos ideais Iluministas vem
se efetivar mais tarde, em importantes conquistas da humanidade, como: os
valores ecológicos, os direitos humanos
universais, a efetivação do Estado Laico, a expansão e fortalecimento
dos ideais democráticos, a queda do dogmatismo religioso e a valorização da
liberdade individual e do pensamento.
Concluo este texto, com uma frase famosa
dita por um famoso filósofo iluminista francês chamado Voltaire: “ Não concordo
com uma palavra do que dizes, mas defendo até a morte o teu direito de
dizê-las”.
Referências:
<<
ma%C3%A7onahttp://www.sohistoria.com.br/resumos/iluminismo.phpria>> Acessado em: 18/09/2016
<< http://origemdapala
vra.com.br/site/palavras/evangelho/>> Acessado em: 19/09/2016
<< https://pensador.uol.com.br/voltaire_concordo/>> Acessado em: 20/09/2016
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