quinta-feira, 25 de maio de 2017

A VIDA MORAL E A GRAÇA DE DEUS EM SANTO AGOSTINHO

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A VIDA MORAL E A GRAÇA DE DEUS EM SANTO AGOSTINHO

Neste trabalho relativo a terceira instrução do Grau de Companheiro Maçon, pretendo abordar de forma singela a temática da virtude agostiniana, tomando como base um pequeno trecho da página 84 do Ritual de Companheiro ( ano 2012) que assim reza:
“Filósofos célebres e grandes sábios têm permanecido profanos por não terem compreendido o que obscuros pensadores conseguiram discernir por si próprios, à força de refletirem no silêncio e no recolhimento”.
Esse trecho em particular, refere-se a incompreensão da finalidade do saber ético, adquirido através da meditação e do recolhimento; do exercício da interioridade: a felicidade e o reconhecimento da inspiração e graça divina por trás dos atos humanos.
É bastante notável a importância da abordagem de Agostinho (354-430 d.C.) , filósofo nascido em Tasgate de Numídia, província Romana ao norte da África, sobre a natureza das motivações humanas no que tange a moral e a ética. As investigações filosóficas de Santo Agostinho no campo da moral, ainda hoje gozam de autoridade e prestígio, sendo objeto de consulta e utilizado por filósofos renomados e autoridades no assunto.
Para os filósofos antigos, a ética teria como finalidade o bem supremo, que seria a felicidade. Porém, mesmo seguindo a linha de raciocínio dos antigos filósofos sobre a ética, a virtude e a felicidade, Agostinho percorre um caminho distinto. O caminho trilhado por Agostinho está sempre sob a influência do pensamento cristão, utilizando como fundamento de sua fé, a autoridade das escrituras em seu sistema de crenças.
Agostinho acredita que todos os homens desejam por natureza serem felizes, contudo, segundo ele, somente Deus poderia proporcionar a felicidade ao homem. Na concepção do filósofo, a felicidade pode ser alcançada em sua plenitude na eternidade com Deus, pois ainda segundo ele, seria na eternidade, que o homem gozaria de sua plenitude, através da união com Deus. Com isso, Agostinho passa a conferir ao resultado das ações humanas uma perspectiva eterna, onde o homem seria recompensado por Deus com a felicidade, mediante suas boas ações.
Porém, diferentemente dos antigos filósofos, que acreditavam que o homem podia atingir a felicidade e libertar-se dos vícios e dos males através do uso da razão e do intelecto, tornando-se virtuosos, Agostinho afirmava que o homem por si mesmo era incapaz de tornar-se feliz.  Para ele, a natureza pecaminosa do homem o privava da graça de Divina, e era justamente a graça de Deus que conduzia o homem a virtude proporcionando-lhe a felicidade. A graça de Deus aniquila toda e qualquer possibilidade humana de alcançar a felicidade através das boas ações.
Se algo de bom ou virtuoso habita no homem, não foi devido aos seus próprios méritos, mas devido ao favor de Deus. Esse modo peculiar de Agostinho em avaliar e

julgar as ações humanas, tem sua gênese na crença bíblica da graça salvadora através do Cristo, onde as ações humanas são justificadas apenas em Deus e somente Nele:


Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”.
 EFÉSIOS, Cap. 2:8-9


 
 





A graça seria portanto o favor  de Deus para com o homem, uma dádiva que parte de Deus para o homem e o conduz a virtude. Todavia, deve-se entender aqui a concepção de salvação, no sentido de felicidade na eternidade.
Agostinho dá primazia a caridade ao invés da sabedoria louvada entre os gregos e ressalta que a prática da virtude entre os não cristãos seria uma forma de exagero do poder da autossuficiência, pois eles desejam todo o crédito pela virtudes que possuem e pela felicidade alcançada.  
Em Agostinho a caridade ou amor é denominada virtude original, numa tentativa de ressaltar a relevância da moral cristã. Santo Agostinho chama as boas ações feitas pelos pagãos em prol de seu semelhante ou de sua comunidade, de virtudes “cívicas”. O bispo de Hipona afirma ainda que,as ações virtuosas dos povos pagãos, não seriam autênticas, mas um mero ato cívico que possui o egoísmo como princípio norteador de tais ações.
Independentemente de suas condições sociais e graus de intelectualidade, os homens mais pervertidos e imorais podem tornarem-se virtuosos,entretanto, os mesmos devem reconhecer sua incapacidade de conduzir as  suas vidas virtuosamente e sem vícios,  se arrependendo dos seus pecados.
Algo que é recorrente em Agostinho a respeito da moral,é o fato é a ênfase no declínio moral da raça humana,  advinda da quebra do relacionamento com Deus. A graça de Deus é concebida por Agostinho como o favor imerecido de da divindade para

com o homem e as virtudes autênticas inspiradas no amor de Deus se dão por intermédio dos méritos de cristo.

“ De fato, se a felicidade fosse dada de acordo com o mérito humano,a graça não seria graça”
(AGOSTINHO apud in McGrade, 2008: 280)
 
 





Em suma, em sua análise crítica, o filósofo Santo Agostinho nos exorta a não nos envaidecermos, e cairmos no pecado da autoglorificação do ego e do narcisismo de nossas próprias virtudes, lembrando-nos a compreender nossas boas ações como ações inspiradas por Deus, com o objetivo de glorifica-lo ao invés do culto ao nosso próprio Eu.




Will Jackson Santos de Oliveira, COMP.’. M.’. Cad. 3.818 da
A.’.R.’.L.’.S.’.  Eliezer Sá Peixoto Nº29  Oriente de Rio Largo/Al., jurisdicionada a Mui e Respeitável Grande Loja do Estado de Alagoas - GLOMEAL)






REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, J. F. (tradutor). Bíblia, Efésios, Cap. 2:8-9. Versão pentecostal, 1997.
McGrade, A. S. Filosofia medieval. Aparecida, SP. Ideias e Letras, 2008. [tradução de André Oídes]
Ritual de Companheiro – Rito Escocês Antigo e Aceito, 2012. p. 84
<<http://www.osa.org.br/osa/stoagostinho/vida.html>> acessado em: 19 de Abril de 2017





A busca da verdade

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A busca da verdade
   
     Neste trabalho de segunda instrução do Grau de Companheiro Maçon, pretendo abordar de forma breve sobre a aventura humana na busca da verdade, para tanto, tomarei como base um trecho da página 17 do Ritual de Companheiro Maçon ( ano 2012) que assim reza:
“ A Doutrina Iniciática, cujo conhecimento está reservado aos que não param na superfície e sabem se aprofundar”
    Tal trecho a meu ver, elenca de forma brilhante o movimento interior do homem em busca da verdade, sua aventura em aprofundar-se nos mistérios da vida, saindo da superficialidade do saber em direção aos arcanos do conhecimento.
    Desde os primórdios da filosofia, o homem empreende um grande esforço na busca da verdade. Tal busca inicia-se com os filósofos pré-socráticos, que tinham como principal objetivo compreender a origem da natureza, e sua própria origem. A ferramenta a qual se utilizaram foi a formulação de um discurso cuja base fosse a própria razão, pretendendo dessa maneira abrir mão das explicações míticas sobre a origem do mundo, difundidas pela literatura dos poetas e pela Teogonia grega.
    A princípio, os primeiros filósofos empreenderam seus esforços no sentido de encontrar uma substancia etérea, um principio fundamental originador da multiplicidade das coisas e causa de todas elas. No entanto,  com Sócrates, a busca da verdade passou a concentrar-se na univocidade do ser, em encontrar a essência da verdade no discurso, na linguagem, cuidando que a verdade pudesse ser atingida através da metodologia socrática, em sua maiêutica.
    Na idade média, a filosofia grega uniu-se ao cristianismo, tentando encontrar respostas as lacunas da teologia cristã sobre a natureza de Deus, a origem do Universo, a divindade de Cristo, a imortalidade da alma, etc...
    Na modernidade, o racionalismo Aristotélico ressurge com mais força, através do movimento Iluminista e a reformulação das ciências com René Descartes, porém a crítica a fé na infalibilidade da razão cresce e a racionalidade do homem moderno é afrontada, com mais vigor com Immanuel Kant, que questiona os fundamentos do conhecimento e as possiblidades de conhecer. Mas Friedrich Nietzsche por seu turno,  coloca o problema de modo peculiar, tentando resolver a tensão entre ser e devir, e a partir da contradição e falta de sentido do mundo, resgata em parte, a ideia de Heráclito sobre a essência do mundo e das coisas, os entes cognoscíveis.
    A tradição filosófica sempre encontrou amparo na razão para descrever algo sobre o mundo tendo em vista que  a razão sempre foi privilegiada em detrimento dos sentidos, o sensitivo no humano foram por muito tempo considerados como fonte de enganos.
    Na esteira de Nietzsche , o corpo é a grande razão, é ele quem melhor apreende a realidade do mundo através da experimentação, assim a razão seria uma ferramenta secundaria de corroboração das impressões fornecidas pelos sentidos. Caberia a razão apenas conceituar tais percepções e organiza-las. Ainda, segundo o filósofo alemão, as impressões vertidas em conceitos, jamais poderiam descrever com fidelidade a essencialidade das coisas, mas apenas meras representações conceituais, criação, ilusão.
    Nietzsche defende que nenhum sistema filosófico consegue dar conta, de modo impecável de qualquer questão, seja ela qual for, nem mesmo as questões de cunho lógico. O ser ou essência das coisas é inatingível, as palavras são meras ferramentas auxiliares que tentam traduzir nossas apreensões das coisas. As coisas são devir, elas nunca permanecem a mesma, o mundo todo é essencialmente devir, está em constante mudança, de modo que não seria possível que um fato ocorra igualmente, se repetindo com a mesma intensidade; na realidade, fenômenos e apreensões não se repetem jamais, pois são independentes e peculiares. O que fazemos na realidade são comparações entre um fenômeno e outro, através de uma relação de causa e efeito, tentando inútil e ardilosamente burlar o devir das coisas.
    O cerne da critica de Nietzsche ao conhecimento, funda-se na ideia de que a verdade, implica em uma perspectiva, em uma possibilidade de se afirmar sobre algo, considerando que aquilo sobre o que afirmamos pode vir a ser vencido pelo devir do mundo, mesmo os fenômenos da natureza ( a gravidade por exemplo), por mais regulares que sejam, são passíveis de mudança e por consegüinte sujeitos a que sejam reformulados, tudo o que cientificamente possa ser afirmado sobre eles.
    O devir do mundo é em essência o mundo como movimento, tudo em constante mudança, o mutatis mutandis que constitui o ser do mundo. Tentar encontrar a verdade implica numa busca pelo sentido do Ser, um sentido absoluto, universal, que justifique o mundo, que lhe forneça uma compreensão total do mundo, seja do ponto de vista da ética, da política, da arte ou da filosofia.
    Contudo, Nietzsche nos chama a atenção no intuito de nos advertir que a maior verdade e a mais necessária são as verdades relativas a vida. De acordo com ele, a existência humana proporciona ao homem um privilegio singular e ímpar de experimentar o mundo; experiência-lo da maneira mais intensa possível, sem dogmatismos, vivendo o agora como se fosse um instante eterno.
   Nesse sentido, o modo de vida defendido pelo filósofo de Röcken  faz com que a vida seja vivida na eternidade de cada instante. Sob a custódia de uma mente livre, que não se fecha em um sistema filosófico cujas premissas arrebatem o livre pensamento, a criticidade e minem a inventividade humana, tornando-o presa fácil do pensamento condicionado.
    Nietzsche ousadamente, retoma a essência da filosofia e seu objetivo: tornar o homem um amante da sabedoria. Os filósofos gregos entendiam a filosofia não como uma disciplina de caráter meramente especulativo, que visa objetiva e simplesmente a aquisição curiosa de informações, mas ao contrario, eles entendiam a filosofia como uma atitude de inquietação e constante busca pelo conhecimento enquanto alimento da alma, enobrecendo o homem e o tornando mais consciente de suas limitações, respeitando os deuses e as tradições.     
    O próprio significado da palavra filosofia: ( gr. philos+ sophia) encerra em si,  o sentido de caminho, de busca, de disposição do espírito, de uma busca em direção a verdade, auxiliado pelo farol da razão, mas nunca uma busca com fim objetivo de esgotar-se, tendo em vista que o conhecimento da verdade absoluta e da totalidade do mundo só pertence aos deuses, de acordo com a própria definição de Pitágoras de Samos.
    A ideia de que a razão humana não é plenipotenciária está ligada a filosofia desde os primórdios, os primeiros filósofos entenderam que o conhecimento da essência de todas as coisas ou a totalidade delas só poderiam ser apreendido por um ente divino, cabendo ao homem apenas amar a sabedoria, mas com o passar do tempo, este sentido originário foi esquecido e a filosofia assumiu por um longo período uma essência doutrinaria, positivista. 
    A crítica nietzscheana a razão e ao conhecimento tem como ponto fulcral a falibilidade da razão, as limitações humanas, e a busca insensata de um homem finito, pelo universal e o absoluto. Nesse sentido, a verdadeira sabedoria seria para Nietzsche, o reconhecimento pelo homem,  de suas próprias limitações, a consciência de si, do quanto é pequeno diante da grandeza do mundo, da magnitude da natureza em sua totalidade e da divindade.



Will Jackson Santos de Oliveira, COMP.’. M.’. Cad. 3.818 da
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Referencias:

http://filosofandosc.blogspot.com.br/2013/03/a-origem-da-palavra-filosofia.html

Ritual de Companheiro – Rito Escocês Antigo e Aceito, 2012. p.74

Gnose, o caminho do esclarecimento


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Gnose, o caminho do esclarecimento

  
 Neste trabalho, pretendo trazer a lume um dos aspectos mais relevantes sobre a essência da palavra Gnose e seu aplicativo acepcional e originário, e a partir disso, elencar a sua relação com uma das doutrinas éticas mais importantes da historia humana, que foi alvo de querela para a Igreja Cristã nos primeiros séculos e que por conseguinte originou um dos mais conhecidos Concílios da história da Igreja, como resposta imediata ao seu crescimento e como meio de suplantar e apagar  tal conhecimento e doutrina dos anais da historia humana.
    Conforme encontramos na página 67, do Ritual de Companheiro, a palavra Gnose nos é apresentado no sentido de conhecimento sobre as causas ou origens das coisas, temos:

“[...]É o conjunto de Noções comuns aos iniciados que, a força de aprofundar, acabam por se encontrar na mesma compreensão da causa das coisas”( RITUAL DE COMPANHEIRO,2012 )

    É notório que a aquisição de tal conhecimento, é fruto de uma vontade de aprofundamento, pois a expressão “força”  é aqui entendida como vontade firme resoluta na busca do conhecimento. Porém, é importante salientar que o termo Gnose aqui analisado não tem relação com o tipo de conhecimento científico que visa a aplicação de teorias e técnicas para dominação, exploração, manipulação e cultivo da Natureza em favor do homem. O sentido da palavra Gnose nesse contexto, está remetendo a filosofia Gnóstica, arquirrival do cristianismo, nos primeiro séculos depois de Cristo.
    Antes de discorrer de forma breve, sobre a querela entre Gnosticismo e Cristianismo, devo expor de modo sintético, os fundamentos de tal doutrina e sua importância dentro ponto de vista ético, moral e cultural. Diferentemente da aplicação trivial do termo Gnose, convém-nos atentarmos detidamente em sua tradução mais originária, a versão equivalente da palavra conhecimento, do latim scientia, que originalmente se refere a um tipo especial de conhecimento cujo sentido não está fatalmente atado a preocupação moderna de emprego prático, no que tange a fazer-se útil em termos de aplicações técnicas voltadas as demandas matérias de nossa atual sociedade.
    Gnose, é um conhecimento cujo objetivo é harmonizar o interior e o exterior, anulando a dualidade entre espírito e matéria, mundo subjetivo e mundo objetivo, por meio de um esclarecimento evolutivo da consciência humana. A aquisição de tal esclarecimento é de natureza ascética e tem por finalidade o retorno do homem a si mesmo, a sua fonte originária, o seu Mestre Interior. A fonte primária da emanação de da doutrina gnóstica é o conhecimento do próprio homem durante toda a sua história de existência, suas experiências adquiridas e apropriadas como verdadeiros feixes de iluminação indispensáveis ao desenvolvimento espiritual da humanidade. A natureza mesma da Gnose a reunir valores espirituais e congrega-los como verdadeiros tesouros e fonte de benefícios humanos, como a felicidade por exemplo.  O principal difusor de tal doutrina de caráter sincretista foi com toda certeza o Gnosticismo.
    Antes de adentramos na essência da filosofia gnóstica, convém-nos esclarecer a diferença entre gnosticismo e agnosticismo. Agnosticismo, como a própria palavra parece revelar; significa incognoscível, incompreensível, o prefixo “A”, que antecede a palavra gnosticismo, já nos dá pistas de que o termo agnosticismo é na verdade o contrário do termo gnose.
    O agnosticismo consiste na afirmação da incapacidade humana de compreender Deus como também de defini-lo, seja através da filosofia, da linguagem, da ciência, da arte, etc. A doutrina agnóstica se divide normalmente em três correntes: o agnosticismo teísta, o ateísta e o deísta.
     O agnóstico teísta afirma positivamente a existência de um ser superior, uma energia originadora do Universo, um princípio criador. O agnóstico ateísta nega a existência de um principio criador, de uma força poderosa e pessoal, um ente espiritual criador de todas as coisas, no entanto o agnóstico deísta compreende-se como um ente divino, que assim como deus está conectado a natureza, em harmonia e partilha da natureza divina, da alma universal, ele se compreende como uma manifestação do próprio deus.
    Retornando ao ponto fulcral de nosso trabalho, comecemos pelos pressupostos basilares do Gnosticismo, ou da doutrina gnóstica.
    O ponto de partida para a revelação da verdade portanto a compreensão de si e do mundo para o gnóstico implica em três pilares ou pontos de apoio:

    O primeiro é o Nascimento, que consiste na quebra radical da dualidade entre o Masculino e o Feminino que se dá através da transmutação de nossas energias vitais, resgatando o Sagrado presentificado através da união entre homem e mulher, uma reverencia a “jóia seminal”, o Logos Divino-Humano, gerador da Criação.
    O segundo é a Morte, que consiste em compreender a morte como desprendimento total da matéria, liberdade absoluta. Nesse sentido, a Morte é a fonte do transcendente, o canal de aperfeiçoamento pleno dos espíritos humanos e sua aquisição de poder sobre as imperfeições do mundo material.
    O terceiro é o Sacrifício, que consiste em uma adesão absoluta ao sacrifício pessoal em favor da Humanidade, a erradicação do egoísmo, a Chave da felicidade, a Gnose, em outras palavras: um conhecimento supremo revelado ao homem ainda em vida, através do novo despertar, o Nascimento que brota de seu interior e em seguida o leva a morte, que simbolicamente representa o domínio sobre as paixões e a superação dos males do mundo material, para que por fim, o homem possa torna-se em um ser divino, um ser iluminado pelo conhecimento de si mesmo e do Universo de Deus, encontrando a harmonia perfeita entre o Criador supremo e o próprio ser-humano enquanto criatura de Deus, e a natureza, as coisas criadas que englobam todo o mundo material.
    Apesar de parecer um ensinamento pouco conhecido, o Gnosticismo foi nos primeiro Séculos depois de Cristo, a principal e mais popular doutrina cristã difundida no Império Romano. Se arrefecimento se deu através de um plano político em executado pelo Imperador Constantino, que pragmaticamente adotou o cristianismo institucional como religião oficial no intuito de favorecer a manutenção e consolidação de seu poder.
    Certamente o gnosticismo não favorecia o poder politico por ser ele uma filosofia da transcendência, voltada para a ética humana e sem pretensões políticas, pois não trazia em seu bojo doutrinário a preconização de um Reino de Deus, com uma elite sacerdotal como mediadores desses reino, exercido em uma primeira instancia aqui na terra, como foi o caso do Cristianismo Oficial, conhecido como a religião Católica, que  com este viés de militância política, conseguiu se perpetuar  como religião até os dias de hoje.
   A moção político-pragmática de Constantino não conseguiu vencer a doutrina gnóstica, e foi preciso que o Imperador convocasse um concílio no ano de 325 depois de Cristo, o Concílio de Nicéia, ali naquele Concílio o gnosticismo seria, oficial e ideologicamente declarado como doutrina herética e decretada a morte de seus seguidores, bem como a queima de todos os seus livros, que por deliberação do Concílio de Nicéia, foram considerados livros apócrifos.
    É interessante compreender o motivo pelo qual o cristianismo atual conseguiu frear o crescimento do gnosticismo, entre os principais motivos, estaria a questão da visão de Cristo como um ser Divino, um messias político que entregara seu reino ao Sacerdócio Romano prometendo voltar um dia. Disto pode-se concluir que o motivo foi essencialmente político, o descarte do gnosticismo se deu pelo fato de que era um movimento filosófico cristão e não algo que pudesse se institucionalizar e aliar-se ao poder do Império favorecendo o controle das massas.
    No gnosticismo, nunca houve espaço para o fortalecimento do poder em suas doutrinas -pois ao invés de pregar um homem de natureza caída, condenado ao inferno e à espera de um salvador- tendo em vista que o cerne de sua doutrina é fortalecer o homem gerando nele uma consciência autônoma de senhor e salvador de si mesmo, mediante o desenvolvimento de suas potencialidades e virtudes, que o conduzem em direção ao Despertar do que há de mais divino no humano em nós.
    Mas felizmente, graças a Divina providencia, apesar de toda perseguição e obstrução desenfreada contra o gnosticismo ainda podemos encontrar nos dias de hoje, suas literaturas, como o Evangelho de Tomé e o Evangelho de Maria Madalena entre tantas outras. Ainda também, conseguimos encontrar os ensinamentos basilares do gnosticismo presentes em diversas religiões, entre elas gostaria de destacar o Espiritismo e no que concerne a Ordens Iniciáticas destaco a própria Maçonaria, guardiã fiel da doutrina e sabedoria gnóstica através dos séculos.
 O esclarecimento pregado pelo gnosticismo é fomentado pela filosofia maçônica, que tem por objetivo libertar o homem dos grilhões da profanidade, elevando sua mente e preparando seu espirito para a revelação ou ‘gnosis’ das verdades sagradas que remetem e integram o ser do homem a Deus e a natureza, em consonância com a Antiga Advertência, apreciada também pelo Sábio Sócrates:
"Te advirto, quem quer que sejas,
Oh, tú! Que desejas sondar os Mistérios da Natureza.
Como esperas encontrar outras excelências,
Se ignoras as de tua própria casa?
Em ti, está oculto o tesouro dos tesouros.
Oh, homem! Conhece a Ti mesmo
E conhecerás o Universo e os Deuses".






Will Jackson Santos de Oliveira, COMP.’. M.’. Cad. 3.818 da
A.’.R.’.L.’.S.’.  Eliezer Sá Peixoto Nº29  Oriente de Rio Largo/Al., jurisdicionada a Mui e Respeitável Grande Loja do Estado de Alagoas - GLOMEAL)


Referências:

http://ensinadorcristao.blogspot.com.br/2009/07/o-que-e-o-gnosticismo.html
http://www.cursosdemagia.com.br/concilio.htm
http://www.gnose.org.br/os_gnosticos_na_historia/
Introdução à Filosofia da Religião, Trad. Adail Ubirajara Sobral, Maria Stela Gonçalves. São Paulo, Edições Loyola, 1996, p. 20.
Ritual de Companheiro – Rito Escocês Antigo e Aceito, 2012. p.59. Acessado em: 24/02/2017


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

       ÀG.’. D.’. G.’.A.’.D.’.U.’.

Número três: o número da plenitude


            Neste trabalho de  quinta instrução do Ritual de Aprendiz, pretendo discorrer de forma breve, sobre o número três, trazendo-o a lume dentro de uma perspectiva esotérico-teológica e filosófica. Pretendo destacar alguns elementos importantes que constituem a essência desse número sagrado, evidenciando a relação que ele possui enquanto número de acepção esotérica, sua aplicação dentro do âmbito da teologia e também dentro da filosofia. Reconhecendo a profundidade e inesgotabilidade que tal assunto produziria, pretendo apenas tratar com o assunto de modo sintético, referencial e alusivo a fim de evitar um longo e complexo texto que venha abrir margem para discussões ad infinitum.
            Antes mais nada, convém questionar o tema acima, para melhor nos nortearmos sobre o que objetiva a posição a ser defendida nesse texto. Convém por conseguinte perguntar: por que o número três, seria o número da plenitude?
Ante de se responder essa pergunta, faz-se necessário atentar para o número dois.
            Como podemos observar, na página 232 do Ritual de Aprendiz, uma admoestação  à que o aprendiz evite estacionar seus pensamentos neste número, pois é um número terrível, revelador, o prospecto da desgraça ou do infortúnio. Foi considerado pelas tradições místicas da antiguidade como o número da divisão, da discórdia e da contradição; a essência do INIMIGO ou a revelação do mal.
            O número dois se constitui da dualidade, da oposição, dos contrários. Por esse motivo, fixar o pensamento no número dois é perigoso para quem está iniciando nos degraus da sabedoria, devido ao fato de que o numero dois, possui a característica de conduzir a mente humana ao pensamento binário, polarizado e maniqueísta. Tal modo de pensar é embaraçoso e leva o espírito humano  as zonas profundas da dúvida, do antagonismo e da contradição.
            Justamente por esse motivo, é que o número três, em sua teofania, nos aparece, trazendo calmaria e equilíbrio ao nosso espírito; plenitude. Mas de que modo a mística do número três nos proporciona esses benesses?
            A resposta a essa pergunta pode ser facilmente encontrada se compreendermos o número três como o número da completude, o número que liberta o espírito humano das amarras tentadoras do pensamento bidimensional. O pensamento bidimensional é aquele que leva o espirito humano a pensar a partir de dois polos; como o caso da oposição entre a tese antítese mas sem resolução.
            A falta de resolução que se dá no antagonismo gerado pelo numero dois, quem completa é o número três. Essa completude proporcionada pelo número três é quem dissipa as trevas da dúvida e engano. No número três temos a síntese, que é o resultado da correta aplicação da razão sobre as forças opostas representadas pelo pensamento dialético (  bem e mal, amor e ódio, luz e trevas, etc...), que é extremamente divisor. O número três é um número de natureza divina porque fala sobre a essência do homem, o atributo tríplice da divindade e sua relação com os homens.
            Quanto a natureza do homem, o número três revela a sua estrutura essencial: espírito, alma e corpo.
            Sobre a divindade, temos a manifestação tríplice de Deus, na pessoa do Pai ( e sua natureza paterna na relação com os homens), a pessoa do Filho ( e sua natureza fraterna na relação com o homens) e o Espírito ou Espirito Santo ( e sua natureza arcânico-divina na relação de misterium tremendum do ser de Deus para a mente dos homens).
            Ainda, no número três, temos a onipotência, a Onisciência e a Onipresença da divindade.
            Temos também os três mundos: Interior, exterior e o Divino. Quanto a questão da consciência, temos algo interessante: de acordo com o filósofo brasileiro Miguel Reale, a nossa mente interpreta e organiza o mundo a través de Três setores e não dois, como defendiam os empiristas e lógicos modernos.
            O primeiro setor é o formado pelos objetos naturais, pertencentes  as ciências da natureza ( como Filósofo Alemão Nicolai Hartmann por exemplo). O segundo  setor é o da lógica, da indagação ou da matemática e trata dos objetos ideais, cuja validade não depende de comprovação empírica e cujas ideias não estão no espaço e no tempo. Já o terceiro setor é o formado pelos objetos culturais, que é responsável por toda produção espiritual humana.
            Convém atentar pra um outro ponto  de extrema importância relacionado também ao número três, que encontra-se na página 237 do Ritual de Aprendiz, o qual denominarei, com a devida vênia, como caráter trino da ética humana. Trata-se dos atributos: amor ou sabedoria, vontade e inteligência.
            Para agir com perfeição, o homem necessita dessas três qualidades indissociáveis e indivisíveis.
            Ainda que o indivíduo tenha em sua alma, amor ou sabedoria e não tiver vontade ( vontade entendida aqui como potencia realizadora), suas ações jamais se efetivarão dosadas por esses sentimentos nobres. E ainda, no caso em que o indivíduo tivesse em sua alma o amor ou sabedoria  e a vontade, para potencializar tais predicados, e não tivesse inteligência, os atributos anteriores de nada serviriam, haja vista que a inteligência é quem gerencia a reta condução de todos estes afetos.
            Disto segue que, a alma que conquista a maturidade espiritual e o equilíbrio das ações, deve possuir em seu âmago a harmonia perfeita e o domínio racional desses sentimentos nobres.
            Afim de evitar estender-me, mencionarei  apenas duas relações ( dentre tantas outras existentes) do número três com a pessoa do Mestre de Jesus. Lembramos, de forma mística e esotérica, através da ressurreição de Jesus ao terceiro dia, que o número três é o número do novo nascimento, do ressurgimento- que se dá através da morte do homem profano, resultando em seguida, na ressurreição apoteótica do Iniciado nos Mistérios maçônicos.
             Quero também, referir-me a uma das frases mais famosas verbalizadas por Jesus, que possui uma relação bem interessante com o número três: a expressão: “ caminho, verdade e vida”.



            Estas três palavras foram ditas certa feita, pelo Sábio Jesus, no livro de São João capítulo 14 e versículo 3. Em certa ocasião ele teria dito: “ Eu sou o caminho, e a verdade e a vida(...)”.
A frase pode parecer simples, mas no entanto, trás consigo uma profundidade sem medida, pois refere-se a plenitude da busca do sentido da vida. Destas três palavras proferidas por Jesus podemos extrair três importantes lições intrínsecas a nossa existência.
            A primeira é que quando o Jesus Cristo aponta a si mesmo como “o caminho”, em outras palavras aprendemos que a busca pela verdade é uma busca interior e pessoal, subjetiva, fruto de reflexões e experiências vividas, única e exclusivamente por nós mesmos.
            A segunda lição é que, o homem quando se compreende enquanto caminho, se liberta da alienação e torna-se senhor de si mesmo chegando assim a sua verdade pessoal, sua iluminação.
              E por fim a terceira lição, diz respeito ao caráter prático da verdade e sua relação com a vida. Em outras palavras, faz-se necessário que a verdade seja uma verdade útil para a vida, que lhe traga benefícios e que por fim, esses benefícios rompam a esfera pessoal e subjetiva alcançando uma dimensão de universalidade, contribuindo para o bem da humanidade.
             Assim, com estes pequenos pontos abordados acima, podemos ter uma noção elementar da riqueza mística e a profundidade que o número três abarca, e o motivo pelo qual ele é o número da completude ou plenitude, é justamente o fato de revelar-se como o número da síntese, da resolução,  e harmonizador das três esferas que compõe o Todo da existência :  o mundo interior do homem, o mundo externo e o mundo transcendente; Divino.
É por conseguinte, do número três que o mundo criado é manifesto em sua tridimensionalidade e apresenta em sua essência material a composição tríplice, à saber: a matéria o espaço e o tempo. Sem matéria, espaço e tempo o mundo material não subsiste, pois são elementos intrínsecos e inseparáveis. Só há matéria onde há tempo e só a tempo onde há espaço e vice-versa. Da matéria também surge os três estados; à saber: o sólido, o liquido e o gasoso. Portanto, o número três é o número da completude porque é dele que o mundo criado e o homem são representado em sua natureza tríplice, em seu equilíbrio,  em sua plenitude material e espiritual.

Will Jackson Santos de Oliveira, Apr.’. M.’. Cad. 3.818 da
A.’.R.’.L.’.S.’.  Eliezer Sá Peixoto Nº29  Oriente de Rio Largo/Al., jurisdicionada a Mui e Respeitável Grande Loja do Estado de Alagoas - GLOMEAL)



Referências:  Ritual de Aprendiz, Rito Escocês Antigo e Aceito, 2012

Acessado em: 02/10/2016
Acessado em: 02/10/2016

Acessado em: 02/10/2016

ÀG.’. D.’. G.’.A.’.D.’.U.’.

As luzes do Evangelho da Civilização

             Nesta  quarta instrução de aprendiz maçom, relativo ao Ritual de Aprendiz ( do Rito Escocês Antigo e Aceito, de 1928) pretendo ponderar de forma breve, sobre o significado da expressão “  [...]luzes do evangelho da civilização[...]”, da página 218, de acordo com seu respectivo contexto, concernente ao legado espiritual que nós ocidentais, herdamos do Oriente. Para tanto, farei um paralelo desta expressão, com um trecho do livro do Evangelho de São Mateus, capítulo 24 e versículo 27, e, como pequeno adendo contextual de desfecho, acrescentarei também o versículo 29 do mesmo capítulo.
            Curiosamente ( e não à toa), vemos  de forma explicita, na página 218 da quarta instrução, em um pequeno trecho, que omite e passa facilmente ao olhar desatento, a tese a respeito da revelação das luzes do evangelho  da civilização Ocidental, e sua importância enquanto legado cultural e espiritual para nós os orientais. É sabido que o processo civilizatório do Ocidente, bebeu e ainda sacia-se de forma intensa nos límpidos mananciais desse arcabouço de conhecimentos milenares, produzidos pelos Orientais.
            Vemos o reflexo da cultura, da política, do Direito e da filosofia Oriental, presentes de forma inescusável quando da efetivação e desenvolvimento das grandes civilizações do Ocidente. O auge da sapiência espiritual e material dos ocidentais são ainda assimilados, difundidos e  representados de forma sólida através de nossas instituições nos dias de hoje. Por esse motivo, é que encontramos na quarta instrução, a justa tese, de que “[...]as Luzes do evangelho da civilização, vieram do Oriente”.
            No entanto, se atentarmos mais detidamente sobre uma menção em particular, de semelhante significado, proferida por Jesus, no livro do evangelho de São Mateus, no Capítulo 24 e no versículo 27, podemos adquirir uma maior compreensão do que poderia significar  estas as “luzes do evangelho da civilização” e qual a sua importância para nós, os ocidentais. Ele diz:
“ Porque assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra no Ocidente, assim será a vinda do filho do homem”.
Na quarta instrução do Ritual de Aprendiz, na página 218, também encontramos algo bem semelhante; temos:  
“ Porque Assim como a Luz do Sol vem do Oriente para o Ocidente, as Luzes do Evangelho da civilização, vieram do Oriente, espalhando-se depois pelo Ocidente” (  Ritual de Aprendiz, Ed. 2012)
            As ideias que compõem ambas as citações são as mesmas, porém, na primeira citação, existe apenas dois elementos que parecem diferenciar uma citação da outra , mas que em sua essência, afirmam a mesma coisa. Em primeiro lugar, a primeira citação, usa a expressão ‘relâmpago’, ao invés de ‘luz do sol’, e  em segundo lugar, usa-se a expressão  ‘ vinda do filho do homem’ enquanto, no segundo caso, temos: “ espalhando-se depois pelo Ocidente”.
            Em todo caso, a ideia central bem como a essência dos enunciados são os mesmos, especialmente, quando esclarecido dois pontos cruciais: a etimologia da palavra Oriente e o significado esotérico de alguns termos presentes em ambos os enunciados. Ao destrincharmos os significados esotéricos de desses termos, logo em seguida, se tornará flagrante em ambos os enunciados, a evidente relação e identificação que eles possuem.
            Por uma questão obviamente cronológica, Jesus é quem primeiro aparece apresentando a ideia de que ‘as luzes do evangelho da civilização vem do Oriente’. A primeira diferença, é que ele usa a expressão “relâmpago”, ao invés de “Luzes”. Apesar da palavra relâmpago estar relacionada a um fenômeno da natureza, ela não é uma ideia dissociada da ideia expressa pela palavra Luz, pois, o relâmpago, para os antigos, era a representação de uma mensagem divina, era também considerado um arauto de Deus. Por este motivo, é que Jesus aplica essa expressão metaforicamente, para dizer, em outras palavras, que, as boas novas do evangelho da iluminação das mente, viriam do Oriente.
             Um elemento interessante, presente em ambos os enunciados, é o termo “Oriente”. Oriente é uma palavra originada do Latim, ORIENS, que significa, lugar do céu onde nasce o sol ou lugar onde o sol surge, aparece. Já a palavra Ocidente, que também é originária do Latim, occidens, significa por sua vez, lugar do céu onde o sol  cai ou se põe. Não apenas por uma questão meramente física e fenomênica, Jesus faz uso dessa linguagem metafórica para profetizar ou antecipar em forma de prelúdio poético, a importância do Oriente na formação cultural e na evolução espiritual dos ocidentais, mas por uma questão  extremamente didática, que o grande instrutor nos revela com antecedência o modo como nós os ocidentais, seríamos agraciados com todo o legado espiritual dos orientais e os adotaríamos como princípios éticos e morais de nosso cotidiano.
            É  imprescindível não esquecer, que Jesus, no final de sua fala, nos diz: “ assim será também a vinda do filho do homem”.  Esta ideia é complementar. A complementariedade dessa ideia, está relacionada ao contexto ao qual esta citação de Jesus está relacionada. Nessa ocasião, onde cristo faz referencia ao relâmpago anunciador da mensagem divina, ele está  relacionando-a ao “fim dos tempos”, e é por esse motivo ele compara o trajeto celeste do relâmpago mensageiro que sai do oriente e vai até ocidente, com a sua  própria vinda, retorno ou chegada. Como o significado do enunciado é metafórico, também, está claro no texto, que a vinda de Jesus, ou do “filho do homem”, como ele mesmo se denominava, se referindo a sua natureza humana, é simbólica. Em outras palavras, é sensato afirmar, que a sabedoria pregada por cristo, encantou o Ocidente e o marcou de forma muito profunda, corroborando assim,  de maneira incontestável, que a missão daquele jovem judeu de pouco mais de trinta anos, alcançou êxito, e por isso as ideias do filho do homem alcançou o Ocidente de maneira incontestável. 
            Ainda há outro ponto bastante interessante, que se coaduna também com o iminente advento do legado espiritual do Oriente à influenciar de sobremaneira o Ocidente. Através de uma observação mais atenta ao significado etimológico da palavra evangelho, do grego, EVANGELION, que significa boa notícia ou boa nova, podemos perceber que, a própria palavra já nos dá pistas riquíssimas sobre a real interpretação deste legado que receberíamos dos orientais. Deles, receberíamos portanto, de acordo com o que a própria etimologia da palavra nos mostra, a boa notícia de sua sabedoria, tão salutar ao desenvolvimento espiritual de nosso povo. A etimologia da palavra evangelho, também nos revela de que modo tal legado seria recebido pelos ocidentais: seria recebido como algo novo e agradável!
            Obviamente, que Jesus não somente se referia a si mesmo, quando afirmava que receberíamos todo riquíssimo legado do espiritual do Oriente, mas também, incluía os outros  Grandes Mestres e pensadores orientais que, assim como ele, revolucionaram o pensamento universal, tais quais: Buda, Zoroastro, Confúcio, Maomé e tantos outros pensadores que, durante os tempos, surgiram com a missão de manifestar ao mundo as luzes da verdade do G.’.A.’.D.’.U.’., com o fim de aperfeiçoar e guiar  a alma de todos os homens.
            Ainda no capitulo 24 do livro de São Mateus, no versículo 29, que é o desfecho do capítulo,  encontramos alguns elementos que definem a natureza peculiar desse legado espiritual oriundo do Oriente. Temos o seguinte:
“ Imediatamente após a tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão abalados”.
Conforme foi explicitado acima, sabemos que as palavras proferidas por Jesus, com relação a manifestação das luzes do evangelho a humanidade, estavam atreladas a um período turbulento que haveria de viger na historia do mundo.  Por isso, ele nos adverte que “imediatamente após a tribulação daqueles dias” os astros não dariam a sua luz.
           Ora, a referencia aos astros; a saber: o sol, a lua e as estrelas, possuem um simbolismo profundo no que concerne ao acervo espiritual do Oriente, como também define qual a natureza de seu farol da virtude; as luzes do evangelho. Basta tão somente atentarmos para o significado dos astros citados, que segundo ele, haveriam de ser ofuscados naquele período turbulento da humanidade. Ele cita o sol, a lua e as estrelas.
            O sol e a lua na maçonaria, representa o equilíbrio e a justa harmonia do trabalho maçônico, que se dá do meio-dia à meia-noite. O Sol  e a Lua quarto-crescente apesar de parecem opostos são complementares, são símbolos do ponto de equilíbrio cósmico e espiritual do homem, que é afetado pelo Sol em seu Zênite, que impõe-se com imponência ao meio-dia, no exato momento em que nasce a Lua quarto crescente a qual se põe a meia noite em ponto. Tal fato, é corroborado pela astronomia! As estrelas, por sua vez, representavam para os antigos, a imortalidade e o conflito eterno entre as forças antagônicas luz e trevas; a luz representando a dimensão espiritual, e as trevas representando as coisas materiais.
            O escurecimento desses astros portanto, figuram um período em que a humanidade, marcadamente, estaria sujeita ao domínio da ignorância, da tirania, do desamor e da intolerância. Tudo o que é oposto a virtude. Apenas a partir do século final do século XVII e início do século XVIII( mais precisamente em 1717), surge oficialmente e com todo vigor, uma instituição augusta, guardiã dos segredos majestosos das Antigas escolas de Mistérios orientais: a maçonaria. Concomitantemente, ao surgimento da maçonaria especulativa, surge um enorme interesse nostálgico pelos valores  e sabedorias pertencentes as grandes civilizações do Oriente, interesse fomentado especialmente pelo movimento iluminista.
            O iluminismo europeu, tenta resgatar os valores morais e éticos, legado pela tradição medieval, privilegiando a razão como principal instrumento de progresso humano, e ademais, difundindo valores humanísticos fundamentais a união entre os homens, como: a tolerância.
            O movimento iluminista, originado na França, foi um marco na luta pela liberdade humana e responsável por nutrir e incentivar as conquistas mais importantes da história da humanidade e o avanço da ciência. O seu lema, nos é bastante conhecido: liberdade, igualdade e fraternidade.
            Vale ressaltar também, que a palavra ORIENTAÇÃO deriva do latim, ORIENS, a junção do radical da palavra, mais o sufixo “ação”.
Nesse sentido, pode-se dizer, que, algumas consequências tiramos do que foi dito acima:
1°  Que o Sol representando a Luz de Deus, o G.’.A.’.D.’.U.’.  nos vêm de modo veemente, com um alarde irresistível, como de um clarão de relâmpago, um visível arauto da vontade divina à iluminar nossos corações e mentes
2º que o Oriente nos presenteia com sua sabedoria milenar e seus mistérios sagrados, por ser ele, o símbolo da vontade de Deus e por ser ele também, aquele lugar especial do céu, onde o Sol se manifesta, onde ele aparece; significando portanto a  imperiosa vontade de Deus sobre nossas vidas
3º que nós, os ocidentais, recebemos do Oriente, a orientação devida, orientação esta, que constitui um tesouro espiritual de valor incomensurável, acumulado durante milênios pelos orientais e transmitidos de forma graciosa a  todos nós.
            Foi percebido e manifesto com antecedência, que o resgate da alma decaída do homem moderno foi protagonizado por intermédio das luzes do evangelho da civilização, preconizada pele espírito iluminado de Jesus. Desse modo, nos limitamos apenas a tentativa de aclarar o sentido mais amplo da expressão “luzes do evangelho da civilização”, a começar com o filósofo judeu, Jesus até a modernidade.
            Por esse motivo, houve um corte intencional e inevitável aqui no texto que ora apresentamos- com a intenção de não ser excessivo no conteúdo- e que no entanto, vale ressaltar, que, conforme pretendi apresentar, “as luzes do evangelho da civilização”, historicamente, atingiram o seu  ápice de manifestação fenomênica através do movimento Iluminista, responsável pela façanha de uma belíssima síntese dos pensamentos e sabedoria do antigos, eliminando o que havia de supersticioso não-racional e convertendo seus saberes sensatos em ciência pura e refinada, regida pelos ditames da razão.
              Do esforço empenhado pelo espírito inquieto das figuras ilustres que a cada dia aderiam ao ideal sincrético do Iluminismo, a humanidade têm avançado na conquista de sua maturidade cientifica, política, filosófica e artística, além de trilhar o caminho da consolidação da tolerância entre os homens de todos os povos e etnias; a fraternidade universal.
             O movimento iluminista apropriou-se do pensamento dos antigos podando-os e conferindo-lhes um caráter especulativo. O resultado dos ideais Iluministas vem se efetivar mais tarde, em importantes conquistas da humanidade, como: os valores ecológicos, os direitos humanos  universais, a efetivação do Estado Laico, a expansão e fortalecimento dos ideais democráticos, a queda do dogmatismo religioso e a valorização da liberdade individual e do pensamento.
             Concluo este texto, com uma frase famosa dita por um famoso filósofo iluminista francês chamado Voltaire: “ Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defendo até a morte o teu direito de dizê-las”.






Referências:


<< http://origemdapala  vra.com.br/site/palavras/evangelho/>>   Acessado em: 19/09/2016

<< https://pensador.uol.com.br/voltaire_concordo/>>   Acessado em: 20/09/2016
ÀG.’. D.’. G.’.A.’.D.’.U.’.

Reflexões sobre salário dos aprendizes e companheiros

     Neste trabalho de primeira instrução de Companheiro maçom, abordarei de forma breve e sucinta sobre a natureza mística e significado dos salários dos Aprendizes e Companheiros maçom, tomando por base a página 59, do Ritual de Companheiro.
     Logo no inicio da primeira instrução de Companheiro Maçom, na página 59, encontramos uma descrição dos salários dos Aprendizes e Companheiros maçons que trabalharam na construção do templo de Salomão, temos:
“ [...] foi empregado um número imenso de MM.’. na construção do T.’.. Eram, na sua maior parte, AApr.’. e CComp.’.. Os AApr.’. recebiam, semanalmente, uma ração de trigo, vinho e azeite; os CComp.’. eram pagos seu salário em dinheiro, que recebiam na Câmara do Meio do Templo. “
    A primeira vista, parece ser uma mera descrição sem nenhuma conotação relevante, no entanto, se analisarmos mais detida e ponderadamente tal descrição, encontraremos uma riqueza de significados; significados estes relacionados a mística maçônica e a natureza espiritual do salário dos Aprendizes e Companheiros maçons.
    Do ponto de vista meramente material, salário é por definição, a paga pelo trabalho e labor dos trabalhador empregado na execução dos serviços. Até ai tudo bem, mas trazida pra o âmbito espiritual, a aplicação da palavra salário já adquire outro significação além do meramente trivial. O salário em seu significado místico está relacionado a aquisição de valores  e virtudes espirituais conquistados através de uma vida introspectiva, ascética, espiritualista.
Conforme podemos observar, na página 59, do Ritual de companheiro maçom, em consonância com a descrição do recebimento de salário, temos duas categorias distintas de maçons operários: os Aprendizes e os Companheiros.  A primeira categoria, os Aprendizes, recebiam como salário a ração de trigo, o vinho e o azeite, enquanto que os Companheiros recebiam o salário em dinheiro.
    Ao analisarmos de modo mais pertinente a paga do salario de ambas as categorias de maçons, torna-se conveniente perguntar-se por qual motivo um grupo ( os Aprendizes ) recebiam alimento enquanto o outro grupo ( os Companheiros ) recebiam em dinheiro.
Na antiguidade, o trigo era considerado dádiva dos deuses, ele era uma das principais fontes de alimento dos primeiros povos que habitaram a terra, as primeiras comunidades nômades que viveram as margens do rio Tigre e Eufrates, atual porção da Turquia asiática. O trigo era também sinal de prosperidade e possuía um grande valor vital a tal ponto que, a comunidade ou clã que possuísse mais trigo em estoque seria também a que mais cresceriam e poder. O trigo passou, com o tempo, a assumir o status de riqueza espiritual de um povo, legado dos deuses.
O vinho, talvez a bebida mais antiga que a humanidade tenham conhecido, foi bastante consumido pelos povos antigos, era também um alimento, e considerado um estimulante à vida. Basta dizer que para os Judeus e gregos o vinho era símbolo da alegria. Esotericamente, foi adotado pelos antigos como um elemento de interação com o divino, o qual o deus Grego Dionísio é seu principal representante.

    O azeite, foi bastante utilizado pelos povos antigos e possuía diversas aplicações. As principais utilizações do azeite eram:  consumido como alimento, como combustível e remédio.         Mas também, o azeite era considerado para os antigos, um elemento sagrado. Os sacerdotes dos templos eram ungidos com azeite entre os Hebreus. Também na cerimonias de unção de reis e na orações por pessoas debilitadas, onde o óleo era passado na testa, região do lóbulo frontal.
    De acordo com a explanação acima, da natureza do salário do Aprendiz, já podemos ter uma visão mais ampla da riqueza q significado que tal salário representa para os passos do Aprendiz maçom; pois através destes elementos, o aprendiz aprende a lidar com o sagrado, com aquilo que lhe alimenta material e espiritualmente, lhe fortalecendo em sua caminhada enquanto aprendiz, e lhe preparando para suportar os revezes da vida, tornando prospero, forte e fecundo através das benesses do trigo, tornando-se mais pleno e feliz, mais próximo do divino, estimulado pelo néctar dos deuses, o vinho e por fim separado para uma missão especial, pela unção do azeite, pela consagração do elemento que serve com combustível à chama da verdade em sua senda maçônica.
    É importante constar aqui, ao menos à título de informação que, nas Escrituras, encontramos, no antigo Testamento, mais especificamente em Gênesis 41:1-55, a historia do Hebreu José, que engrandeceu o Egito Antigo, ao preveni-lo da escassez de alimentos que assolaria todo mundo antigo, aconselhando ao Faraó que estocasse bastante trigo nos celeiros do Egito, representando de forma mística, a necessidade de preservarmos as riquezas vitais para não desfalecermos na vida espiritual e material.
Nas Sagradas Escrituras, encontramos ainda, no livro Evangelho de São João, no capítulo 2:1-12, vemos Jesus, em seu primeiro milagre, transformando agua em vinho, em um casamento, em Caná da Galileia, representando de modo simbólico, que a prioridade do reino de Deus é a alegria de todo homem e a comunhão das famílias humanas.
Ainda no Livro da Lei, encontramos no livro de Mateus, capítulo 25:1-13, a parábola das dez virgens, que se utilizavam de azeite pra mantes suas lâmpadas acesas à espera do Noivo na escuridão, representando a vigilância constante para a manutenção da luz espiritual dos homens.

     Por fim, resta-nos perscrutar sobre a natureza do salário do Companheiro maçom, sabermos por qual motivo o Companheiro maçom recebe seu salário em dinheiro. O motivo está estreitamente relacionado à paga do Aprendiz maçom, o aprendiz recebe as dádivas da terra, os elementos vitais que o fortalece e o levam ao divino, mas o Companheiro, por ter ascendido espiritualmente, por ter adquirido sua liberdade espiritual e dado mais um passo em direção ao seu deus-interior, recebe seu salário em dinheiro porque e o dinheiro é símbolo do mundo material, da liberdade e ampliação do poder de compra. O Companheiro após ter adquirido segurança e maturidade espiritual, agora trabalha sobre a pedra polida ou cúbica, e seu desafio é exercer suas liberdade, ser regressão, sem ceder as paixões mundanas, mesmo tendo o poder do dinheiro, ele faz bom uso dele.
    Eis a diferença que existe entre os salário do Aprendiz e do Companheiro maçom, tudo está relacionado à questão espiritual e aos seus respectivos estágios ou patamares espirituais. Em suma, o salário do maçom é o símbolo da dignidade na caminhada maçônica, bem como representa entre outras coisas, a relação entre emanação e transcendência humanas na sua escala evolutiva, seu caminho de desprendimento da matéria em direção ao cultivo do espírito!
    Concluo o presente texto, com uma das mais briosas citações do rei Salomão, sobre a evolução espiritual do homem, escrita no livro de Provérbios, no capítulo 4 e versículo 18:
 “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais, até ser dia perfeito”




Will Jackson Santos de Oliveira, Apr.’. M.’. Cad. 3.818 da
A.’.R.’.L.’.S.’.  Eliezer Sá Peixoto Nº29  Oriente de Rio Largo/Al., jurisdicionada a Mui e Respeitável Grande Loja do Estado de Alagoas - GLOMEAL)


Referencias:

Ritual de Companheiro – Rito Escocês Antigo e Aceito, 2012. p.59. Acessado em: 24/02/2017
 www.bibliaonline.com.br  (Gênesis 41:1-55)  Acessado em: 24/02/2017
www.bibliaonline.com.br  ( Provérbios 4:18 )  Acessado em: 24/02/2017
www.bibliaonline.com.br  ( São João, 2:1-12 )  Acessado em: 24/02/2017

www.bibliaonline.com.br  (São Mateus 25:1-13)  Acessado em: 24/02/2017