ÀG.’. D.’. G.’.A.’.D.’.U.’.
Número três: o número da plenitude
Neste
trabalho de quinta instrução do Ritual
de Aprendiz, pretendo discorrer de forma breve, sobre o número três, trazendo-o
a lume dentro de uma perspectiva esotérico-teológica e filosófica. Pretendo
destacar alguns elementos importantes que constituem a essência desse número
sagrado, evidenciando a relação que ele possui enquanto número de acepção
esotérica, sua aplicação dentro do âmbito da teologia e também dentro da
filosofia. Reconhecendo a profundidade e inesgotabilidade que tal assunto
produziria, pretendo apenas tratar com o assunto de modo sintético, referencial
e alusivo a fim de evitar um longo e complexo texto que venha abrir margem para
discussões ad infinitum.
Antes mais nada,
convém questionar o tema acima, para melhor nos nortearmos sobre o que objetiva
a posição a ser defendida nesse texto. Convém por conseguinte perguntar: por
que o número três, seria o número da plenitude?
Ante de se responder essa pergunta, faz-se necessário atentar para
o número dois.
Como podemos
observar, na página 232 do Ritual de Aprendiz, uma admoestação à que o aprendiz evite estacionar seus
pensamentos neste número, pois é um número terrível, revelador, o prospecto da
desgraça ou do infortúnio. Foi considerado pelas tradições místicas da
antiguidade como o número da divisão, da discórdia e da contradição; a essência
do INIMIGO ou a revelação do mal.
O número dois se
constitui da dualidade, da oposição, dos contrários. Por esse motivo, fixar o
pensamento no número dois é perigoso para quem está iniciando nos degraus da
sabedoria, devido ao fato de que o numero dois, possui a característica de
conduzir a mente humana ao pensamento binário, polarizado e maniqueísta. Tal
modo de pensar é embaraçoso e leva o espírito humano as zonas profundas da dúvida, do antagonismo e
da contradição.
Justamente por
esse motivo, é que o número três, em sua teofania, nos aparece, trazendo calmaria
e equilíbrio ao nosso espírito; plenitude. Mas de que modo a mística do número
três nos proporciona esses benesses?
A resposta a
essa pergunta pode ser facilmente encontrada se compreendermos o número três
como o número da completude, o número que liberta o espírito humano das amarras
tentadoras do pensamento bidimensional. O pensamento bidimensional é aquele que
leva o espirito humano a pensar a partir de dois polos; como o caso da oposição
entre a tese antítese mas sem resolução.
A falta de resolução que se dá no
antagonismo gerado pelo numero dois, quem completa é o número três. Essa
completude proporcionada pelo número três é quem dissipa as trevas da dúvida e
engano. No número três temos a síntese, que é o resultado da correta aplicação
da razão sobre as forças opostas representadas pelo pensamento dialético ( bem e mal, amor e ódio, luz e trevas, etc...),
que é extremamente divisor. O número três é um número de natureza divina porque
fala sobre a essência do homem, o atributo tríplice da divindade e sua relação
com os homens.
Quanto a
natureza do homem, o número três revela a sua estrutura essencial: espírito,
alma e corpo.
Sobre a
divindade, temos a manifestação tríplice de Deus, na pessoa do Pai ( e sua
natureza paterna na relação com os homens), a pessoa do Filho ( e sua natureza
fraterna na relação com o homens) e o Espírito ou Espirito Santo ( e sua
natureza arcânico-divina na relação de misterium
tremendum do ser de Deus para a mente dos homens).
Ainda, no número
três, temos a onipotência, a Onisciência e a Onipresença da divindade.
Temos também os
três mundos: Interior, exterior e o Divino. Quanto a questão da consciência,
temos algo interessante: de acordo com o filósofo brasileiro Miguel Reale, a
nossa mente interpreta e organiza o mundo a través de Três setores e não dois,
como defendiam os empiristas e lógicos modernos.
O primeiro setor
é o formado pelos objetos naturais, pertencentes as ciências da natureza ( como Filósofo
Alemão Nicolai Hartmann por exemplo). O segundo
setor é o da lógica, da indagação ou da matemática e trata dos objetos
ideais, cuja validade não depende de comprovação empírica e cujas ideias não
estão no espaço e no tempo. Já o terceiro setor é o formado pelos objetos
culturais, que é responsável por toda produção espiritual humana.
Convém atentar
pra um outro ponto de extrema
importância relacionado também ao número três, que encontra-se na página 237 do
Ritual de Aprendiz, o qual denominarei, com a devida vênia, como caráter trino da ética humana. Trata-se
dos atributos: amor ou sabedoria, vontade
e inteligência.
Para agir com
perfeição, o homem necessita dessas três qualidades indissociáveis e
indivisíveis.
Ainda que o
indivíduo tenha em sua alma, amor ou
sabedoria e não tiver vontade ( vontade entendida aqui como potencia
realizadora), suas ações jamais se efetivarão dosadas por esses sentimentos
nobres. E ainda, no caso em que o indivíduo tivesse em sua alma o amor ou sabedoria e a vontade,
para potencializar tais predicados, e não tivesse inteligência, os atributos anteriores de nada serviriam, haja vista
que a inteligência é quem gerencia a reta condução de todos estes afetos.
Disto segue que,
a alma que conquista a maturidade espiritual e o equilíbrio das ações, deve
possuir em seu âmago a harmonia perfeita e o domínio racional desses
sentimentos nobres.
Afim de evitar
estender-me, mencionarei apenas duas relações
( dentre tantas outras existentes) do número três com a pessoa do Mestre de
Jesus. Lembramos, de forma mística e esotérica, através da ressurreição de
Jesus ao terceiro dia, que o número três é o número do novo nascimento, do
ressurgimento- que se dá através da morte do homem profano, resultando em
seguida, na ressurreição apoteótica do Iniciado nos Mistérios maçônicos.
Quero também,
referir-me a uma das frases mais famosas verbalizadas por Jesus, que possui uma
relação bem interessante com o número três: a expressão: “ caminho, verdade e
vida”.
Estas três
palavras foram ditas certa feita, pelo Sábio Jesus, no livro de São João
capítulo 14 e versículo 3. Em certa ocasião ele teria dito: “ Eu sou o caminho,
e a verdade e a vida(...)”.
A frase pode parecer simples, mas no entanto, trás consigo
uma profundidade sem medida, pois refere-se a plenitude da busca do sentido da
vida. Destas três palavras proferidas por Jesus podemos extrair três
importantes lições intrínsecas a nossa existência.
A primeira
é que quando o Jesus Cristo aponta a si mesmo como “o caminho”, em outras
palavras aprendemos que a busca pela verdade é uma busca interior e pessoal,
subjetiva, fruto de reflexões e experiências vividas, única e exclusivamente por
nós mesmos.
A segunda
lição é que, o homem quando se compreende enquanto caminho, se liberta da
alienação e torna-se senhor de si mesmo chegando assim a sua verdade pessoal,
sua iluminação.
E por
fim a terceira lição, diz respeito ao caráter prático da verdade e sua relação
com a vida. Em outras palavras, faz-se necessário que a verdade seja uma
verdade útil para a vida, que lhe traga benefícios e que por fim, esses
benefícios rompam a esfera pessoal e subjetiva alcançando uma dimensão de
universalidade, contribuindo para o bem da humanidade.
Assim,
com estes pequenos pontos abordados acima, podemos ter uma noção elementar da
riqueza mística e a profundidade que o número três abarca, e o motivo pelo qual
ele é o número da completude ou plenitude, é justamente o fato de revelar-se
como o número da síntese, da resolução,
e harmonizador das três esferas que compõe o Todo da existência : o mundo interior do homem, o mundo externo e o
mundo transcendente; Divino.
É por conseguinte, do número três que o mundo criado é
manifesto em sua tridimensionalidade e apresenta em sua essência material a
composição tríplice, à saber: a matéria o espaço e o tempo. Sem matéria, espaço
e tempo o mundo material não subsiste, pois são elementos intrínsecos e
inseparáveis. Só há matéria onde há tempo e só a tempo onde há espaço e
vice-versa. Da matéria também surge os três estados; à saber: o sólido, o
liquido e o gasoso. Portanto, o número três é o número da completude porque é
dele que o mundo criado e o homem são representado em sua natureza tríplice, em
seu equilíbrio, em sua plenitude
material e espiritual.
Will Jackson Santos de Oliveira, Apr.’. M.’. Cad. 3.818
da
A.’.R.’.L.’.S.’.
Eliezer Sá Peixoto Nº29 Oriente
de Rio Largo/Al., jurisdicionada a
Mui e Respeitável Grande Loja do Estado de Alagoas - GLOMEAL)
Referências: Ritual
de Aprendiz, Rito Escocês Antigo e Aceito, 2012
<< https://apdsji.wordpress.com/2009/09/16/curiosidades-do-numero-3-na-biblia/>> Acessado em: 02/10/2016
Acessado em: 02/10/2016
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