domingo, 24 de julho de 2016

ÀG.’. D.’. G.’.A.’.D.’.U.’.

AS TRÊS PORTAS

            Neste trabalho, abordarei de forma sintética, a relação das três portas com a evolução espiritual que elas sugerem, de forma subjacente, ao neófito. Tomo por base, as páginas 194,196 e 197 do Ritual de Aprendiz, que fazem referencia as três portas, associando-as as três viagens que o neófito é submetido durante sua iniciação.
 Encontramos a primeira menção as três portas do templo de Salomão, descritas na Bíblia, no primeiro livro dos Reis, capítulo 7:4-5. Segundo Plantageneta, as três portas possuem uma relação com as três janelas do templo: a primeira janela fica situada ao Sul, a segunda no Ocidente e a terceira no Oriente. As posições em que encontram- se dispostas às janelas, estão relacionadas com o movimento do Sol, que por sua vez, representa a luz do G.’.A.’.D.’.U.’. a contemplar e nortear os obreiros em suas atividades dentro do templo.
Toda porta possui como característica peculiar uma áurea de mistério, guardam um segredo por trás, que só se torna conhecido após seu acesso. As portas na antiguidade, possuíam significado aquém de seu uso trivial no cotidiano. Eram também consideradas como guardiãs dos mistérios sagrados, véu dos arcanos sacros, encerrando também um profundo significado esotérico: desvelar os mistérios do sagrado, nas antigas tradições iniciáticas. E é justamente nesse sentido, que o texto a ser abordado lida com a questão das portas: o conceito esotérico de porta é tomado aqui no sentido acesso ao sagrado. Concernente as três portas do Templo de Salomão, de modo similar, este significado esotérico ainda é preservado pela maçonaria nos dias de hoje, sendo seccionado em três etapas. Tal divisão não é aleatória ou acidental, muito pelo contrário; cada etapa das passagens pela porta ao fim de cada viagem representa um passo peculiar na evolução espiritual que o iniciado terá de trilhar, em busca da verdade; de sua iluminação pessoal.
             O templo é velado aos profanos, e seu interior só é manifesto após o termino das viagens, onde o acesso é concedido paulatinamente ao neófito vendado. Na primeira passagem pela porta, é permitido o acesso ao neófito com certa resistência, no intuito de esquadrinhar suas reais intenções, indicando a meu ver, o quanto é sagrado seu primeiro passo, além de ser um dos mais indeléveis, por marcar o inicio de sua jornada maçônica, e por esse motivo, seu acesso deve ser franqueado a partir de uma sondagem de seus reais intuitos, verificando se há franqueza em seu coração, para que o então neófito possa vir a atingir os outros níveis possibilitados pelo acesso as outras duas portas, e para que seja-lhe permitido passar do estágio inicial-de homem bárbaro e sem lei, de seu estado primitivo, onde a luz da razão não dirigia seus passos- para os outros dois estágios ou etapas, representados pelas outras duas viagens, a fim de usufruir da evolução da consciência humana, representadas pelas próximas viagens, à seguir. Essa é a essência da primeira viagem. Na segunda porta, seu acesso implica em um acontecimento originário e impar; um requisito espiritual substancial para se chegar a terceira e ultima porta: e se submeter a purificação pela água.
            A água, nas tradições antigas, era considerada como um elemento sagrado, que brotava do seio da mãe terra como presente dos deuses, esse motivo talvez explique o porque seu uso conotativo é mantido ainda hoje pela maioria das religiões da antiguidade, e foi adotada também pelo Cristianismo até os dias de hoje. A água representa o novo nascimento para os cristãos, é símbolo da pureza para os judeus, e seu caráter fluido representa para os espíritas, a transferência e troca de energias positivas emanadas de entes espirituais do bem, para a manutenção da harmonia física e mental dos que a ingerem.
            Na maçonaria, o mergulhar da mão esquerda sobre a bacia representa a purificação da alma humana, pré-requisito essencial àqueles que estiverem dispostos a receber a luz da verdade. É necessário haver franqueza plantada na alma, uma autêntica disposição de espírito para a recepção da luz, sinceridade. Essa é a essência da segunda viagem.
            Na terceira porta, o neófito chega a terceira e última etapa de sua viagem; a purificação pelo fogo. O fogo nas tradições antigas é também considerado um elemento sagrado e uma dádiva dos deuses para os homens. O fogo era considerado o elemento natural mais poderoso e também representava o progresso para os gregos. Na mitologia grega, vemos o deus Prometeu, dando aos homens o poder do fogo e o conhecimento de sua manipulação, por julgar o seu uso, necessário a sobrevivência e ao progresso humano. Para o Judaísmo, o fogo representava a ira e a justiça divina, e para o Cristianismo, passou a representar ainda a purificação da alma e a ascendência espiritual do homem.
            O fogo, pelo seu alto poder consumidor, era para os antigos, símbolo da eliminação dos elementos e, por conseguinte, da eliminação do mal, em sentido esotérico. Na maçonaria, a presentificação do elemento fogo na terceira viagem assume esse caráter espiritual esotérico de purificação, de eliminação das imperfeições e, por conseguinte, do mau presente no interior do homem profano, que não desvendou os olhos espirituais e, portanto não recebeu a luz. Essa é a essência da terceira viagem.
            Durante o caminho de cada viagem nos deparamos com três portas-representando as três virtudes essenciais à busca da verdade, que, ao decorrer cada obstáculo, nos permitem interiorizar alguns ensinamentos morais. Mas, quais são eles e qual a finalidade que encerram? São as disposições necessárias à buscada verdade; a saber: Sinceridade, Coragem e Perseverança.
             A Sinceridade nos ensina que, na busca da verdade, não há nada a se ganhar em termos meramente materiais, pois nossa busca deve ser destituída de interesses egoístas, e da presunção da vaidade profana, que avilta e desvirtua o saber humano.
             A Coragem nos ensina sobre os riscos que corremos na busca da verdade. Aprendemos que a verdade é preciosa, mas que sua busca exige coragem, pois muitas vezes corre-se o risco de perder até mesmo a própria vida, em razão de sua descoberta.
            E por último, a Perseverança, que é a virtude que nos instiga a continuar na busca da verdade e a insistir intrepidamente, mesmo diante dos revezes da vida, ensinando-nos a travar nossa batalha de uma forma cada vez mais intensa, em prol da verdade, pois uma vez descoberta à verdade, deve ser defendida, porque a verdade do G.A.’.D.’.U.’. é sempre uma verdade afirmadora da vida- e o seu contrário é a morte-por isso a verdade do G.’.A.’.D.’.U.’. é nesse sentido sagrada, por ser sempre uma verdade vital; em favor do bem supremo: que é o dom da vida.




Will Jackson Santos de Oliveira, Apr.’. M.’. Cad. 3.818 da
A.’.R.’.L.’.S.’.  Eliezer Sá Peixoto Nº29  Oriente de Rio Largo/Al., jurisdicionada a Mui e Respeitável Grande Loja do Estado de Alagoas - GLOMEAL)




Referencias:

Ritual d Aprendiz – Rito Escocês Antigo e Aceito, 2012. p. 195-197.





Nenhum comentário:

Postar um comentário