quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A venda sobre os olhos do Neófito; símbolo da ausência de luz.

                            A venda sobre os olhos do Neófito; símbolo da ausência de luz.


          Neste trabalho, pretendo discorrer de forma breve, sobre o significado da venda sobre os olhos do iniciado, tomando por base as páginas 112 e 113 do Ritual de Aprendiz do Rito Escocês Antigo e Aceito, para refletir juntamente com os irmãos sobre a correlação da venda nos olhos do neófito e sua relação com a necessidade de iluminação.

           Ora, desde tempo imemoriais, as mais antigas religiosas adotaram o conceito de luz, como um elemento antagônico à escuridão, a partir do pressuposto da dualidade entre luz e trevas. O raiar do dia, ao revelar o imponente surgimento do Sol, representava a esperança e a vida para os antigos. A Luz do sol garantia-lhes o sustento diário ao nutrir-lhes a colheita, e por isso era também símbolo da preservação da vitalidade da natureza.
           Possivelmente um dos primeiros astros a receber adoração-senão o principal- tenha sido o Sol, sua forte presença e simbolismo é encontrado de forma incontestável entre muitas das principais religiões, praticadas e assimiladas pelas antigas civilizações mais conhecidas como Babilônia, Pérsia, Egito, Grécia e Roma. 
            Dos cultos solares da pré-história, o conceito de luz passa a assumir um significado mais específico, ao ser assimilado pelas grandes civilizações da antiguidade. Vale mencionar aqui, a lenda grega de Ícaro, um jovem ousado e sonhador, que, ao tentar alçar voos cada vez mais altos em direção ao sol, acaba sucumbindo sobre as águas do mar Egeu, tendo os seu planos frustrados diante da majestade do astro inacessível.
           A partir dessa lenda, podemos perceber o quanto os antigos eram fascinados pelo Sol, mas, no entanto, de certa forma, conscientes de sua impossibilidade- mesmo com o uso de diversos artifícios e engenhosidades- de aproximar-se do mesmo. Apenas restava-lhes o consolo da contemplação. Porém, na medida em que o conhecimento cosmológico dos antigos avançava, eles se deram conta da impossibilidade de aproximação desse astro poderoso, e o espírito humano, com sua capacidade inventiva, não se deixou abater, trazendo o Sol para o seu cotidiano, providenciam-lhe um caráter representativo de cunho esotérico. Tal caráter representativo assumiu diversas formas de interpretação em diferentes culturas e religiões. A partir dai, o Sol passa a assumir o significado de fonte de iluminação interior dos homens.
            O judaísmo e o cristianismo também adotam este mesmo significado, transferindo a ideia de um astro fonte de luz, que é inalcançável e distante, aproximando-o do homem e atribuindo-lhe um valor subjetivo e espiritual. Neste sentido, o astro rei passa a representar a presença de Deus e sua luz, a iluminar a alma do homem. Ainda no judaísmo, vemos Sol representando a justiça e o favor divino: “ Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.” ( Sl 84.11) No novo testamento, Deus é chamado de o Pai das luzes, cuja bondade ilumina o coração de todo homem benevolente e amoroso: “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação”. ( Tg 1.17)
          A partir disso, pode-se constatar, que a figura do Sol assume um sentido mais profundo, o Sol, deixa de ser considerado algo etéreo e inacessível, e passa assumir o caráter de um Deus pessoal que inspira os atos humanos através da iluminação de suas consciências. Espiritualmente, o Sol representa o Ser supremo, e a sua glória, a iluminação da alma humana. A alegoria da caverna, do filósofo grego Platão, nos dá uma pista da importância da luz, no cotidiano dos antigos. A alegoria, fala sobre, a eminencia da Luz maior, o Sol, que incidia sobre a caverna. Aprendemos através da alegoria da caverna, que por mais eficiente que seja, a luz artificial jamais será suficiente para satisfazer as necessidades espirituais humanas. Sem o auxilio da luz maior, o G.’.A.’.D.’.U.’., o homem não exercita seu pendor para a liberdade, mas mantem-se aprisionado, de costas para a luz divina, e suas virtudes não atingem uma maior dimensão e amplitude, porque são virtudes mal iluminadas, aprendidas apenas de forma bruta e tosca, através de projeções de sombras- apenas simulacros- que lhes são apresentadas, estando diante deles.
              A alegoria de Platão nos diz , que certo dia, um dos prisioneiros consegue sair da caverna e conhece o mundo real, têm dificuldades quanto á enxergar devido ao tempo em que esteve sem contato algum com a luz do Sol. O ex habitante da caverna consegue se adaptar ao mundo real, mas ao retornar a caverna com a ânsia de anunciar a novidade aos seus companheiros, é descrido e assassinado por eles . Isso no ensina, que, quando os iluminados conhecem a luz, ascende-lhes logo um desejo altruísta de convidar os seus amigos que vivem acorrentados e iludidos pelas sombras -oriundas da projeção da luz menor ( o fogo) - a conhecer o mundo real, iluminado eminente pela luz divina.
               No entanto, mesmo na maior das intenções, corre-se o perigo de perder a própria vida em defesa da verdade. A ignorância e o preconceito alimentam o medo e inviabilizam a iluminação das mentes profanas, ao ponto de tornar-se até mesmo perigosa a empresa de anunciar as boas novas da verdade do G.’A.’.D.’.U.’.. As palavras de São João, o discípulo amado de Jesus, sintetizam de modo categórico, a resistência do mundo profano a luz da verdade: “E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” ( Jo 3. 19-21) Mas, de tudo o que foi exposto acima, afinal de contas, o que tudo o que isto foi dito, tem a ver com a venda nos olhos do neófito? A resposta é simples: tudo a ver.
               Há uma relação intrínseca entre o Sol representando o G.’.A.’.D.’.U.’., e a sua Luz revelada ao neófito, quando depara-se com uma das luzes divina no templo sagrado; à saber: o livro da Lei. Ali está - simbolicamente- inserido o conhecimento sagrado, que conduz o homem a iluminação, conforme expressa o salmista Davi “ Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho” ( Sl 119.105) Ali, ao desvendarem-lhe os olhos do neófito, as trevas da ignorância e dos preconceitos do mundo profano são ofuscadas, e iluminado pela glória do G.’.A.’.D.’.U.’., com o auxílio de seus irmãos, o neófito estabelecerá uma conexão autêntica com a luz maior que é Deus, imponente, iluminando o interior do templo físico, e nos conduzindo, as boas obras de justiça e amor, mesmo estando fora do templo, porque o verdadeiro templo do altíssimo somo nós; e a sua glória, ao incidir em nossos corações, irradia a vida dos nossos semelhantes onde quer que estejamos, pois somos o testemunho vivo da bondade divina, o templo vivo e móvel que leva a luz do G.‘.A.’.D.’.U.’. as pessoas.
                O caminho da luz, é o despertar à serviço do bem da humanidade, é ter na alma a disposição ao melhoramento de si mesmo e do mundo, por que a missão do maçom é fazer a humanidade feliz. É também, dispor o seu braço a esse ideal augusto de tornar feliz a humanidade, cedendo o coração em favor de seus irmãos: isto é a essência da maçonaria e a luz que ela difunde através de sua sagrada filosofia: a eliminação do egoísmo humano, tornando-o luz para o mundo egoísta e em trevas, ao transmitir o amor do G.’A.’.D.’.U.’. expresso sob a forma de generosidade. Termino este trabalho, com as palavras do sábio Cientista e humanista, Albert Einstein, para nossa reflexão: “ Meço o valor de um homem pela medida em que se liberta de seu próprio eu” .



 Will Jackson Santos de Oliveira, Apr.’. M.’. Cad. 3.818 da A.’.R.’.L.’.S.’. Eliezer Sá Peixoto Nº29 Oriente de Rio Largo/Al., jurisdicionada a Mui e Respeitável Grande Loja do Estado de Alagoas - GLOMEAL)



 Referencias: A república de Platão – 6ª.,ed, ed. Atena,1956,p.287- 291 http://aslendasdamitologiagrecoroma.blogspot.com.br/ Acessado em: 30/07/2016 http://pensarerelaxar.blogspot.com.br/2010/11/frases-e-pensamentos-de-albert-einstein.html Acessado em: 30/07/2016 Ritual d Aprendiz – Rito Escocês Antigo e Aceito, 2012. p. 195-197. www.bibliaonline.com.br ( Salmos 84.11 ) Acessado em: 30/07/2016 www.bibliaonline.com.br ( Tiago 1.17) Acessado em: 30/07/2016 www.bibliaonline.com.br ( S. João 3. 19-21) Acessado em: 30/07/2016 www.bibliaonline.com.br ( Salmos 119.105 ) Acessado em: 30/07/2016

sábado, 30 de julho de 2016




ÀG.'.D.'.G.'.A.'.D.'.U.'.

A VIRTUDE SOCRÁTICA


          Sócrates, filósofo ateniense, nascido em 469 ou 470 a. C, foi  um marco na história da   filosofia grega. Antes de Sócrates, a filosofia grega se debruçava sobre temas relacionados a natureza e seu principio. Os primeiros filósofos, tinham como preocupação, descobrir o fundamento e causa primeira do cosmos.  A partir de Sócrates, a filosofia grega é dividida entre pré-socráticos e pós-socráticos, tendo em vista,  a sua importância na historia da filosofia como um divisor de águas, ao instaurar uma nova forma de pensar a filosofia a partir do homem e para  o homem. Sócrates, ao contrário dos primeiros filósofos gregos, os filósofos da natureza, estabelece uma nova forma de fazer filosofia, sua filosofia é voltada para o homem. Sócrates  aplica a sua filosofia sobre o etos ( ética) humano, refletindo sobre a importância do conhecimento para libertar o homem da ignorância, combater os males que afrontam a humanidade e conduzir o ser humano à uma vida mais feliz.  
            
          A felicidade para Sócrates, significava ter uma vida regrada pela razão, pois a partir da reflexão  de si, o homem cultivaria a virtude, que e o caminho para o qual a razão conduz os atos humanos. A partir do uso ponderado da razão, o homem atingiria o status de sofós ( gr. sábio), e quando mais avança-se na busca do conhecimento de si mesmo, mais se libertaria da dor e do sofrimento, pois segundo ele,  o autoconhecimento de si mesmo, é quem libertaria o homem do julgo da ignorância fazendo sua vida mais feliz. Uma vez atingindo um estado de espírito guiado por uma vida virtuosa, o homem sábio, jamais desejaria voltar ou regredir em direção ao mal, cedendo as amarras da ignorância, haja vista que para ele,”  o Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância” e tenta a todo custo distanciar-se dela.
           
Em Sócrates, a filosofia é partilhada a todas as pessoas, o filósofo não restringia a filosofia apenas as elites de sua época, mas dialogava nas praças, em banquetes na casa de amigos, em bordéis e nos campos, ao ar livre. Para ele, todo mundo, sem exceção, poderia chegar possuir uma vida virtuosa, contanto que o seu primeiro passo, fosse o reconhecimento de sua ignorância. Para tanto, era preciso assumir uma postura auto-reflexiva e crítica dos valores e saberes aprendidos pelas tradição, afim de que, ao questionar o fundamento de tais valores, o homem permitiria brotar em si mesmo-através do auto concimento- virtudes autênticas, onde cada ato, seria executado com uma causa fundamentada, que o explicasse, ou seja, as ações do sábio, seriam ações refletidas ao invés de ações deliberadas, a partir da mera imitação dos valores da sociedade da polis grega. Isso explica o motivo pelo qual a famosa frase; “conhece-te a ti mesmo”, atribuída à Sócrates pelo oráculo de Delfos, inscrita no pórtico do templo dedicado ao deus Apolo, torna-se um rótulo de sua filosofia do auto conhecimento.
            
          Em outras palavras: Sócrates, pretendia conduzir o homem grego, ao aprofundamento da consciência, assumindo uma postura virtuosa, sua sabedoria começa quando se admite sua própria ignorância, por isso, ele teria constatado que, o que o distinguia do outros filósofos de seu tempo, era justamente o fato de ser ele, o único em cuja sabedoria, consistia, no fato de reconhecer que nada sabia.No entanto, este passo de auto conhecimento de si mesmo, não se dá apenas mediante uma mera negação dos valores que aprendemos, mas a partir do  método socrático de conhecimento, denominado por ele mesmo de parto das ideias, a famosa dialética socrática. Tal método de conhecimento consistia em três etapas: a ironia, a aporia e a maiêutica.

            A ironia consistia no questionamento dos conceitos , tal questionamento constrangeria o interlocutor a admitir sua ignorância, ficando em aporia ( estado de perplexidade e embaraço), a partir dai, o interlocutor, ao constatar a falta de fundamento em sua própria crença, se esforçaria por si próprio chegado ao ultimo estágio da dialética socrática, que era justamente a maiêutica, ou parto das ideias. Como o próprio, nome sugere, o conhecimento para Sócrates era análogo ao parto de uma criança, um novo nascimento, de onde viria a luz, uma nova vida, ou uma nova concepção de vida: a verdade! A analogia de Sócrates à verdade como parto, seria uma homenagem a profissão de sua mãe, que era parteira.
            Portanto, vemos, em Sócrates, que o conceito de virtude, está associado a uma vida feliz regrada pela razão. Neste sentido a virtude em Sócrates, assume um status de fundamento racional objetivo, na condução da vida humana. Em suma, a filosofia socrática não é uma filosofia da  estática, contemplativa e abstrata, como foram para os filósofos pré-socráticos., mas é  uma filosofia dinâmica e prática voltada para o ser humano, que visa a formação para a vida virtuosa: uma vida feliz.



Will Jackson Santos de Oliveira, Apr.’. M.’. Cad. 3.818 da
A.’.R.’.L.’.S.’.  Eliezer Sá Peixoto Nº29  Oriente de Rio Largo/Al., jurisdicionada a Mui e Respeitável Grande Loja do Estado de Alagoas - GLOMEAL)


Referências:


domingo, 24 de julho de 2016


ÀG.’. D.’. G.’.A.’.D.’.U.’.

A PEDRA BRUTA
      
            Seguindo os passos da tradição-como as antigas fraternidades iniciáticas do antigo Egito, a maçonaria ainda nos dias de hoje conserva essa tradição,  e instrui seus membros através de alegorias e símbolos como nos tempos antigos, tendo estes a função de transmitir ensinamentos morais e valores, visando o contínuo aperfeiçoamento do caráter e lembrando-os da “realidade do dever” e cobrando-os a que sejam vigilantes sobre suas ações.
            Deveres estes que, têm como objetivo fazer com que o verdadeiro aprendiz maçom produza frutos, de modo que a sua consciência guiada pela verdade, pela retidão e pela justiça, seja sempre um ato em prol do bem que é Deus; pela pátria, pela família e pelo próximo.
            O constante contato com os símbolos que a Ordem Maçônica propicia é de certo modo um intimar e um convocar constante aos princípios e ao dever, convocando o maçom a assumir sua vocação de guardião e bastião do dever, num culto autentico e sincero a sacralidade da vida.  Sagrada é a vida, pois consiste a mesma em ser uma dádiva do G.’.A.’.D.’.U.’., mas  no entanto, sem a luz dos ensinamentos da maçonaria e dominada pelo vício e pelas trevas da ignorância, a existência humana se avilta e não se torna dadivosa em prol do homem e dos seus semelhantes, pois os frutos da ignorância produzem o que é mal, sendo  seu valor e seus reflexos no mundo, nada mais do que ervas daninhas.
            Um elemento imprescindível e salutar de elevação da consciência moral e do dever a ser observado por todo aprendiz maçom, é a verdade subjacente que o símbolo da pedra bruta abarca.  A pedra bruta encerra em si uma máxima moral que nos remete ao dever, e cuja finalidade é convidar o aprendiz a trilhar o caminho do aperfeiçoamento moral, eliminando as arestas do vício e da ignorância, elevando a consciência pautada no trabalho sobre si mesmo, “vencendo as paixões, submetendo a vontade” ao dever, dentro do âmbito do que é justo e honesto. É um ensinamento que deve ser observado para toda a vida, durante toda caminhada terrena trilhada pelo aprendiz maçon.
            A pedra bruta representa ainda o homem obscurecido pela ignorância e pervertido pelos valores subvertidos da sociedade profana; o homem em seu total estado de cegueira- em seu estado natural onde suas qualidades ainda estão em estado primitivo e amorfo, necessitando, portanto de serem desbastadas. Neste sentido, pode-se dizer que o interior do homem, corrompido pelos vícios e pelas paixões configura-se como uma espécie de matéria prima, onde a utilização racional do maço e do cinzel adornam o espírito humano conferindo-lhe Sabedoria, Força e Beleza na condução de seus atos.
            A pedra bruta nos remete ao compromisso do sacrifício, um compromisso perene de uma vida justa e honesta em honra ao nosso Criador. Este é nosso pacto de compromisso :  estar disposto a desbastar a pedra bruta que é nosso interior, permitindo sua transformação e reconstrução pelos princípios eternos da moral e do bem, estabelecidos pelo G.’.A.’.D.’.U.’., que pode ser bem representado pela analogia do Demiurgo - deus cultuado pelas antigas tradições- o deus sábio e criador que dá forma as coisas, trazendo a ordem no caos do interior do homem.
             A preda Bruta possui também uma relação intrínseca com os outros símbolos e representa portanto a essência do ideal que constitui o fundamento da jornada de todo aprendiz maçom; à saber: a contínua e incessante busca pelo aperfeiçoamento. A relação intrínseca que o símbolo da pedra bruta possui com os outros símbolos ( o maço, o cinzel, a pedra polida e a escada de Jacó ) é justamente esse seu caráter de fundamento, haja vista que para atingir um verdadeiro estágio de elevação espiritual-representado pela pedra polida -faz-se necessário fazer uso dessas ferramentas ( o maço e o cinzel) de forma reflexiva, útil e proveitosa sobre a pedra bruta- o coração do maçom- a fim de que ele possa galgar gradativamente os degraus da perfeição e da transcendência espiritual representados pela escada de Jacob.
             Em suma, podemos dizer que a pedra bruta sinaliza o caminho da morigeração, do aperfeiçoamento moral que deve ser uma constante na vida de uma maçom aprendiz e até mesmo após suas elevações durante a caminhada.
             Assim fizeram os antigos: Abel, Noé, Abrahão, Enoch e Moisés como consta no Livro da Lei, assim faremos nós ao assumirmos tal empresa corroborando assim, através de nossos passos o respeito ao testemunho dado pelo Criador: andar de acordo com os ditames da razão e da verdade, tendo sempre em vista a pedra polida como modelo e ideal emblemático-sagrado da nossa vida.


Will Jackson Santos de Oliveira, Apr.’. M.’. Cad. 3.818 da
A.’.R.’.L.’.S.’.  Eliezer Sá Peixoto Nº29  Oriente de Rio Largo/Al., jurisdicionada a Mui e Respeitável Grande Loja do Estado de Alagoas - GLOMEAL)

Referências:
 Ritual de Aprendiz - Rito Escocês Antigo e Aceito, 2012.


ÀG.’. D.’. G.’.A.’.D.’.U.’.

AS TRÊS PORTAS

            Neste trabalho, abordarei de forma sintética, a relação das três portas com a evolução espiritual que elas sugerem, de forma subjacente, ao neófito. Tomo por base, as páginas 194,196 e 197 do Ritual de Aprendiz, que fazem referencia as três portas, associando-as as três viagens que o neófito é submetido durante sua iniciação.
 Encontramos a primeira menção as três portas do templo de Salomão, descritas na Bíblia, no primeiro livro dos Reis, capítulo 7:4-5. Segundo Plantageneta, as três portas possuem uma relação com as três janelas do templo: a primeira janela fica situada ao Sul, a segunda no Ocidente e a terceira no Oriente. As posições em que encontram- se dispostas às janelas, estão relacionadas com o movimento do Sol, que por sua vez, representa a luz do G.’.A.’.D.’.U.’. a contemplar e nortear os obreiros em suas atividades dentro do templo.
Toda porta possui como característica peculiar uma áurea de mistério, guardam um segredo por trás, que só se torna conhecido após seu acesso. As portas na antiguidade, possuíam significado aquém de seu uso trivial no cotidiano. Eram também consideradas como guardiãs dos mistérios sagrados, véu dos arcanos sacros, encerrando também um profundo significado esotérico: desvelar os mistérios do sagrado, nas antigas tradições iniciáticas. E é justamente nesse sentido, que o texto a ser abordado lida com a questão das portas: o conceito esotérico de porta é tomado aqui no sentido acesso ao sagrado. Concernente as três portas do Templo de Salomão, de modo similar, este significado esotérico ainda é preservado pela maçonaria nos dias de hoje, sendo seccionado em três etapas. Tal divisão não é aleatória ou acidental, muito pelo contrário; cada etapa das passagens pela porta ao fim de cada viagem representa um passo peculiar na evolução espiritual que o iniciado terá de trilhar, em busca da verdade; de sua iluminação pessoal.
             O templo é velado aos profanos, e seu interior só é manifesto após o termino das viagens, onde o acesso é concedido paulatinamente ao neófito vendado. Na primeira passagem pela porta, é permitido o acesso ao neófito com certa resistência, no intuito de esquadrinhar suas reais intenções, indicando a meu ver, o quanto é sagrado seu primeiro passo, além de ser um dos mais indeléveis, por marcar o inicio de sua jornada maçônica, e por esse motivo, seu acesso deve ser franqueado a partir de uma sondagem de seus reais intuitos, verificando se há franqueza em seu coração, para que o então neófito possa vir a atingir os outros níveis possibilitados pelo acesso as outras duas portas, e para que seja-lhe permitido passar do estágio inicial-de homem bárbaro e sem lei, de seu estado primitivo, onde a luz da razão não dirigia seus passos- para os outros dois estágios ou etapas, representados pelas outras duas viagens, a fim de usufruir da evolução da consciência humana, representadas pelas próximas viagens, à seguir. Essa é a essência da primeira viagem. Na segunda porta, seu acesso implica em um acontecimento originário e impar; um requisito espiritual substancial para se chegar a terceira e ultima porta: e se submeter a purificação pela água.
            A água, nas tradições antigas, era considerada como um elemento sagrado, que brotava do seio da mãe terra como presente dos deuses, esse motivo talvez explique o porque seu uso conotativo é mantido ainda hoje pela maioria das religiões da antiguidade, e foi adotada também pelo Cristianismo até os dias de hoje. A água representa o novo nascimento para os cristãos, é símbolo da pureza para os judeus, e seu caráter fluido representa para os espíritas, a transferência e troca de energias positivas emanadas de entes espirituais do bem, para a manutenção da harmonia física e mental dos que a ingerem.
            Na maçonaria, o mergulhar da mão esquerda sobre a bacia representa a purificação da alma humana, pré-requisito essencial àqueles que estiverem dispostos a receber a luz da verdade. É necessário haver franqueza plantada na alma, uma autêntica disposição de espírito para a recepção da luz, sinceridade. Essa é a essência da segunda viagem.
            Na terceira porta, o neófito chega a terceira e última etapa de sua viagem; a purificação pelo fogo. O fogo nas tradições antigas é também considerado um elemento sagrado e uma dádiva dos deuses para os homens. O fogo era considerado o elemento natural mais poderoso e também representava o progresso para os gregos. Na mitologia grega, vemos o deus Prometeu, dando aos homens o poder do fogo e o conhecimento de sua manipulação, por julgar o seu uso, necessário a sobrevivência e ao progresso humano. Para o Judaísmo, o fogo representava a ira e a justiça divina, e para o Cristianismo, passou a representar ainda a purificação da alma e a ascendência espiritual do homem.
            O fogo, pelo seu alto poder consumidor, era para os antigos, símbolo da eliminação dos elementos e, por conseguinte, da eliminação do mal, em sentido esotérico. Na maçonaria, a presentificação do elemento fogo na terceira viagem assume esse caráter espiritual esotérico de purificação, de eliminação das imperfeições e, por conseguinte, do mau presente no interior do homem profano, que não desvendou os olhos espirituais e, portanto não recebeu a luz. Essa é a essência da terceira viagem.
            Durante o caminho de cada viagem nos deparamos com três portas-representando as três virtudes essenciais à busca da verdade, que, ao decorrer cada obstáculo, nos permitem interiorizar alguns ensinamentos morais. Mas, quais são eles e qual a finalidade que encerram? São as disposições necessárias à buscada verdade; a saber: Sinceridade, Coragem e Perseverança.
             A Sinceridade nos ensina que, na busca da verdade, não há nada a se ganhar em termos meramente materiais, pois nossa busca deve ser destituída de interesses egoístas, e da presunção da vaidade profana, que avilta e desvirtua o saber humano.
             A Coragem nos ensina sobre os riscos que corremos na busca da verdade. Aprendemos que a verdade é preciosa, mas que sua busca exige coragem, pois muitas vezes corre-se o risco de perder até mesmo a própria vida, em razão de sua descoberta.
            E por último, a Perseverança, que é a virtude que nos instiga a continuar na busca da verdade e a insistir intrepidamente, mesmo diante dos revezes da vida, ensinando-nos a travar nossa batalha de uma forma cada vez mais intensa, em prol da verdade, pois uma vez descoberta à verdade, deve ser defendida, porque a verdade do G.A.’.D.’.U.’. é sempre uma verdade afirmadora da vida- e o seu contrário é a morte-por isso a verdade do G.’.A.’.D.’.U.’. é nesse sentido sagrada, por ser sempre uma verdade vital; em favor do bem supremo: que é o dom da vida.




Will Jackson Santos de Oliveira, Apr.’. M.’. Cad. 3.818 da
A.’.R.’.L.’.S.’.  Eliezer Sá Peixoto Nº29  Oriente de Rio Largo/Al., jurisdicionada a Mui e Respeitável Grande Loja do Estado de Alagoas - GLOMEAL)




Referencias:

Ritual d Aprendiz – Rito Escocês Antigo e Aceito, 2012. p. 195-197.