quinta-feira, 25 de maio de 2017

A VIDA MORAL E A GRAÇA DE DEUS EM SANTO AGOSTINHO

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A VIDA MORAL E A GRAÇA DE DEUS EM SANTO AGOSTINHO

Neste trabalho relativo a terceira instrução do Grau de Companheiro Maçon, pretendo abordar de forma singela a temática da virtude agostiniana, tomando como base um pequeno trecho da página 84 do Ritual de Companheiro ( ano 2012) que assim reza:
“Filósofos célebres e grandes sábios têm permanecido profanos por não terem compreendido o que obscuros pensadores conseguiram discernir por si próprios, à força de refletirem no silêncio e no recolhimento”.
Esse trecho em particular, refere-se a incompreensão da finalidade do saber ético, adquirido através da meditação e do recolhimento; do exercício da interioridade: a felicidade e o reconhecimento da inspiração e graça divina por trás dos atos humanos.
É bastante notável a importância da abordagem de Agostinho (354-430 d.C.) , filósofo nascido em Tasgate de Numídia, província Romana ao norte da África, sobre a natureza das motivações humanas no que tange a moral e a ética. As investigações filosóficas de Santo Agostinho no campo da moral, ainda hoje gozam de autoridade e prestígio, sendo objeto de consulta e utilizado por filósofos renomados e autoridades no assunto.
Para os filósofos antigos, a ética teria como finalidade o bem supremo, que seria a felicidade. Porém, mesmo seguindo a linha de raciocínio dos antigos filósofos sobre a ética, a virtude e a felicidade, Agostinho percorre um caminho distinto. O caminho trilhado por Agostinho está sempre sob a influência do pensamento cristão, utilizando como fundamento de sua fé, a autoridade das escrituras em seu sistema de crenças.
Agostinho acredita que todos os homens desejam por natureza serem felizes, contudo, segundo ele, somente Deus poderia proporcionar a felicidade ao homem. Na concepção do filósofo, a felicidade pode ser alcançada em sua plenitude na eternidade com Deus, pois ainda segundo ele, seria na eternidade, que o homem gozaria de sua plenitude, através da união com Deus. Com isso, Agostinho passa a conferir ao resultado das ações humanas uma perspectiva eterna, onde o homem seria recompensado por Deus com a felicidade, mediante suas boas ações.
Porém, diferentemente dos antigos filósofos, que acreditavam que o homem podia atingir a felicidade e libertar-se dos vícios e dos males através do uso da razão e do intelecto, tornando-se virtuosos, Agostinho afirmava que o homem por si mesmo era incapaz de tornar-se feliz.  Para ele, a natureza pecaminosa do homem o privava da graça de Divina, e era justamente a graça de Deus que conduzia o homem a virtude proporcionando-lhe a felicidade. A graça de Deus aniquila toda e qualquer possibilidade humana de alcançar a felicidade através das boas ações.
Se algo de bom ou virtuoso habita no homem, não foi devido aos seus próprios méritos, mas devido ao favor de Deus. Esse modo peculiar de Agostinho em avaliar e

julgar as ações humanas, tem sua gênese na crença bíblica da graça salvadora através do Cristo, onde as ações humanas são justificadas apenas em Deus e somente Nele:


Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”.
 EFÉSIOS, Cap. 2:8-9


 
 





A graça seria portanto o favor  de Deus para com o homem, uma dádiva que parte de Deus para o homem e o conduz a virtude. Todavia, deve-se entender aqui a concepção de salvação, no sentido de felicidade na eternidade.
Agostinho dá primazia a caridade ao invés da sabedoria louvada entre os gregos e ressalta que a prática da virtude entre os não cristãos seria uma forma de exagero do poder da autossuficiência, pois eles desejam todo o crédito pela virtudes que possuem e pela felicidade alcançada.  
Em Agostinho a caridade ou amor é denominada virtude original, numa tentativa de ressaltar a relevância da moral cristã. Santo Agostinho chama as boas ações feitas pelos pagãos em prol de seu semelhante ou de sua comunidade, de virtudes “cívicas”. O bispo de Hipona afirma ainda que,as ações virtuosas dos povos pagãos, não seriam autênticas, mas um mero ato cívico que possui o egoísmo como princípio norteador de tais ações.
Independentemente de suas condições sociais e graus de intelectualidade, os homens mais pervertidos e imorais podem tornarem-se virtuosos,entretanto, os mesmos devem reconhecer sua incapacidade de conduzir as  suas vidas virtuosamente e sem vícios,  se arrependendo dos seus pecados.
Algo que é recorrente em Agostinho a respeito da moral,é o fato é a ênfase no declínio moral da raça humana,  advinda da quebra do relacionamento com Deus. A graça de Deus é concebida por Agostinho como o favor imerecido de da divindade para

com o homem e as virtudes autênticas inspiradas no amor de Deus se dão por intermédio dos méritos de cristo.

“ De fato, se a felicidade fosse dada de acordo com o mérito humano,a graça não seria graça”
(AGOSTINHO apud in McGrade, 2008: 280)
 
 





Em suma, em sua análise crítica, o filósofo Santo Agostinho nos exorta a não nos envaidecermos, e cairmos no pecado da autoglorificação do ego e do narcisismo de nossas próprias virtudes, lembrando-nos a compreender nossas boas ações como ações inspiradas por Deus, com o objetivo de glorifica-lo ao invés do culto ao nosso próprio Eu.




Will Jackson Santos de Oliveira, COMP.’. M.’. Cad. 3.818 da
A.’.R.’.L.’.S.’.  Eliezer Sá Peixoto Nº29  Oriente de Rio Largo/Al., jurisdicionada a Mui e Respeitável Grande Loja do Estado de Alagoas - GLOMEAL)






REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, J. F. (tradutor). Bíblia, Efésios, Cap. 2:8-9. Versão pentecostal, 1997.
McGrade, A. S. Filosofia medieval. Aparecida, SP. Ideias e Letras, 2008. [tradução de André Oídes]
Ritual de Companheiro – Rito Escocês Antigo e Aceito, 2012. p. 84
<<http://www.osa.org.br/osa/stoagostinho/vida.html>> acessado em: 19 de Abril de 2017





A busca da verdade

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A busca da verdade
   
     Neste trabalho de segunda instrução do Grau de Companheiro Maçon, pretendo abordar de forma breve sobre a aventura humana na busca da verdade, para tanto, tomarei como base um trecho da página 17 do Ritual de Companheiro Maçon ( ano 2012) que assim reza:
“ A Doutrina Iniciática, cujo conhecimento está reservado aos que não param na superfície e sabem se aprofundar”
    Tal trecho a meu ver, elenca de forma brilhante o movimento interior do homem em busca da verdade, sua aventura em aprofundar-se nos mistérios da vida, saindo da superficialidade do saber em direção aos arcanos do conhecimento.
    Desde os primórdios da filosofia, o homem empreende um grande esforço na busca da verdade. Tal busca inicia-se com os filósofos pré-socráticos, que tinham como principal objetivo compreender a origem da natureza, e sua própria origem. A ferramenta a qual se utilizaram foi a formulação de um discurso cuja base fosse a própria razão, pretendendo dessa maneira abrir mão das explicações míticas sobre a origem do mundo, difundidas pela literatura dos poetas e pela Teogonia grega.
    A princípio, os primeiros filósofos empreenderam seus esforços no sentido de encontrar uma substancia etérea, um principio fundamental originador da multiplicidade das coisas e causa de todas elas. No entanto,  com Sócrates, a busca da verdade passou a concentrar-se na univocidade do ser, em encontrar a essência da verdade no discurso, na linguagem, cuidando que a verdade pudesse ser atingida através da metodologia socrática, em sua maiêutica.
    Na idade média, a filosofia grega uniu-se ao cristianismo, tentando encontrar respostas as lacunas da teologia cristã sobre a natureza de Deus, a origem do Universo, a divindade de Cristo, a imortalidade da alma, etc...
    Na modernidade, o racionalismo Aristotélico ressurge com mais força, através do movimento Iluminista e a reformulação das ciências com René Descartes, porém a crítica a fé na infalibilidade da razão cresce e a racionalidade do homem moderno é afrontada, com mais vigor com Immanuel Kant, que questiona os fundamentos do conhecimento e as possiblidades de conhecer. Mas Friedrich Nietzsche por seu turno,  coloca o problema de modo peculiar, tentando resolver a tensão entre ser e devir, e a partir da contradição e falta de sentido do mundo, resgata em parte, a ideia de Heráclito sobre a essência do mundo e das coisas, os entes cognoscíveis.
    A tradição filosófica sempre encontrou amparo na razão para descrever algo sobre o mundo tendo em vista que  a razão sempre foi privilegiada em detrimento dos sentidos, o sensitivo no humano foram por muito tempo considerados como fonte de enganos.
    Na esteira de Nietzsche , o corpo é a grande razão, é ele quem melhor apreende a realidade do mundo através da experimentação, assim a razão seria uma ferramenta secundaria de corroboração das impressões fornecidas pelos sentidos. Caberia a razão apenas conceituar tais percepções e organiza-las. Ainda, segundo o filósofo alemão, as impressões vertidas em conceitos, jamais poderiam descrever com fidelidade a essencialidade das coisas, mas apenas meras representações conceituais, criação, ilusão.
    Nietzsche defende que nenhum sistema filosófico consegue dar conta, de modo impecável de qualquer questão, seja ela qual for, nem mesmo as questões de cunho lógico. O ser ou essência das coisas é inatingível, as palavras são meras ferramentas auxiliares que tentam traduzir nossas apreensões das coisas. As coisas são devir, elas nunca permanecem a mesma, o mundo todo é essencialmente devir, está em constante mudança, de modo que não seria possível que um fato ocorra igualmente, se repetindo com a mesma intensidade; na realidade, fenômenos e apreensões não se repetem jamais, pois são independentes e peculiares. O que fazemos na realidade são comparações entre um fenômeno e outro, através de uma relação de causa e efeito, tentando inútil e ardilosamente burlar o devir das coisas.
    O cerne da critica de Nietzsche ao conhecimento, funda-se na ideia de que a verdade, implica em uma perspectiva, em uma possibilidade de se afirmar sobre algo, considerando que aquilo sobre o que afirmamos pode vir a ser vencido pelo devir do mundo, mesmo os fenômenos da natureza ( a gravidade por exemplo), por mais regulares que sejam, são passíveis de mudança e por consegüinte sujeitos a que sejam reformulados, tudo o que cientificamente possa ser afirmado sobre eles.
    O devir do mundo é em essência o mundo como movimento, tudo em constante mudança, o mutatis mutandis que constitui o ser do mundo. Tentar encontrar a verdade implica numa busca pelo sentido do Ser, um sentido absoluto, universal, que justifique o mundo, que lhe forneça uma compreensão total do mundo, seja do ponto de vista da ética, da política, da arte ou da filosofia.
    Contudo, Nietzsche nos chama a atenção no intuito de nos advertir que a maior verdade e a mais necessária são as verdades relativas a vida. De acordo com ele, a existência humana proporciona ao homem um privilegio singular e ímpar de experimentar o mundo; experiência-lo da maneira mais intensa possível, sem dogmatismos, vivendo o agora como se fosse um instante eterno.
   Nesse sentido, o modo de vida defendido pelo filósofo de Röcken  faz com que a vida seja vivida na eternidade de cada instante. Sob a custódia de uma mente livre, que não se fecha em um sistema filosófico cujas premissas arrebatem o livre pensamento, a criticidade e minem a inventividade humana, tornando-o presa fácil do pensamento condicionado.
    Nietzsche ousadamente, retoma a essência da filosofia e seu objetivo: tornar o homem um amante da sabedoria. Os filósofos gregos entendiam a filosofia não como uma disciplina de caráter meramente especulativo, que visa objetiva e simplesmente a aquisição curiosa de informações, mas ao contrario, eles entendiam a filosofia como uma atitude de inquietação e constante busca pelo conhecimento enquanto alimento da alma, enobrecendo o homem e o tornando mais consciente de suas limitações, respeitando os deuses e as tradições.     
    O próprio significado da palavra filosofia: ( gr. philos+ sophia) encerra em si,  o sentido de caminho, de busca, de disposição do espírito, de uma busca em direção a verdade, auxiliado pelo farol da razão, mas nunca uma busca com fim objetivo de esgotar-se, tendo em vista que o conhecimento da verdade absoluta e da totalidade do mundo só pertence aos deuses, de acordo com a própria definição de Pitágoras de Samos.
    A ideia de que a razão humana não é plenipotenciária está ligada a filosofia desde os primórdios, os primeiros filósofos entenderam que o conhecimento da essência de todas as coisas ou a totalidade delas só poderiam ser apreendido por um ente divino, cabendo ao homem apenas amar a sabedoria, mas com o passar do tempo, este sentido originário foi esquecido e a filosofia assumiu por um longo período uma essência doutrinaria, positivista. 
    A crítica nietzscheana a razão e ao conhecimento tem como ponto fulcral a falibilidade da razão, as limitações humanas, e a busca insensata de um homem finito, pelo universal e o absoluto. Nesse sentido, a verdadeira sabedoria seria para Nietzsche, o reconhecimento pelo homem,  de suas próprias limitações, a consciência de si, do quanto é pequeno diante da grandeza do mundo, da magnitude da natureza em sua totalidade e da divindade.



Will Jackson Santos de Oliveira, COMP.’. M.’. Cad. 3.818 da
A.’.R.’.L.’.S.’.  Eliezer Sá Peixoto Nº29  Oriente de Rio Largo/Al., jurisdicionada a Mui e Respeitável Grande Loja do Estado de Alagoas - GLOMEAL)



Referencias:

http://filosofandosc.blogspot.com.br/2013/03/a-origem-da-palavra-filosofia.html

Ritual de Companheiro – Rito Escocês Antigo e Aceito, 2012. p.74

Gnose, o caminho do esclarecimento


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Gnose, o caminho do esclarecimento

  
 Neste trabalho, pretendo trazer a lume um dos aspectos mais relevantes sobre a essência da palavra Gnose e seu aplicativo acepcional e originário, e a partir disso, elencar a sua relação com uma das doutrinas éticas mais importantes da historia humana, que foi alvo de querela para a Igreja Cristã nos primeiros séculos e que por conseguinte originou um dos mais conhecidos Concílios da história da Igreja, como resposta imediata ao seu crescimento e como meio de suplantar e apagar  tal conhecimento e doutrina dos anais da historia humana.
    Conforme encontramos na página 67, do Ritual de Companheiro, a palavra Gnose nos é apresentado no sentido de conhecimento sobre as causas ou origens das coisas, temos:

“[...]É o conjunto de Noções comuns aos iniciados que, a força de aprofundar, acabam por se encontrar na mesma compreensão da causa das coisas”( RITUAL DE COMPANHEIRO,2012 )

    É notório que a aquisição de tal conhecimento, é fruto de uma vontade de aprofundamento, pois a expressão “força”  é aqui entendida como vontade firme resoluta na busca do conhecimento. Porém, é importante salientar que o termo Gnose aqui analisado não tem relação com o tipo de conhecimento científico que visa a aplicação de teorias e técnicas para dominação, exploração, manipulação e cultivo da Natureza em favor do homem. O sentido da palavra Gnose nesse contexto, está remetendo a filosofia Gnóstica, arquirrival do cristianismo, nos primeiro séculos depois de Cristo.
    Antes de discorrer de forma breve, sobre a querela entre Gnosticismo e Cristianismo, devo expor de modo sintético, os fundamentos de tal doutrina e sua importância dentro ponto de vista ético, moral e cultural. Diferentemente da aplicação trivial do termo Gnose, convém-nos atentarmos detidamente em sua tradução mais originária, a versão equivalente da palavra conhecimento, do latim scientia, que originalmente se refere a um tipo especial de conhecimento cujo sentido não está fatalmente atado a preocupação moderna de emprego prático, no que tange a fazer-se útil em termos de aplicações técnicas voltadas as demandas matérias de nossa atual sociedade.
    Gnose, é um conhecimento cujo objetivo é harmonizar o interior e o exterior, anulando a dualidade entre espírito e matéria, mundo subjetivo e mundo objetivo, por meio de um esclarecimento evolutivo da consciência humana. A aquisição de tal esclarecimento é de natureza ascética e tem por finalidade o retorno do homem a si mesmo, a sua fonte originária, o seu Mestre Interior. A fonte primária da emanação de da doutrina gnóstica é o conhecimento do próprio homem durante toda a sua história de existência, suas experiências adquiridas e apropriadas como verdadeiros feixes de iluminação indispensáveis ao desenvolvimento espiritual da humanidade. A natureza mesma da Gnose a reunir valores espirituais e congrega-los como verdadeiros tesouros e fonte de benefícios humanos, como a felicidade por exemplo.  O principal difusor de tal doutrina de caráter sincretista foi com toda certeza o Gnosticismo.
    Antes de adentramos na essência da filosofia gnóstica, convém-nos esclarecer a diferença entre gnosticismo e agnosticismo. Agnosticismo, como a própria palavra parece revelar; significa incognoscível, incompreensível, o prefixo “A”, que antecede a palavra gnosticismo, já nos dá pistas de que o termo agnosticismo é na verdade o contrário do termo gnose.
    O agnosticismo consiste na afirmação da incapacidade humana de compreender Deus como também de defini-lo, seja através da filosofia, da linguagem, da ciência, da arte, etc. A doutrina agnóstica se divide normalmente em três correntes: o agnosticismo teísta, o ateísta e o deísta.
     O agnóstico teísta afirma positivamente a existência de um ser superior, uma energia originadora do Universo, um princípio criador. O agnóstico ateísta nega a existência de um principio criador, de uma força poderosa e pessoal, um ente espiritual criador de todas as coisas, no entanto o agnóstico deísta compreende-se como um ente divino, que assim como deus está conectado a natureza, em harmonia e partilha da natureza divina, da alma universal, ele se compreende como uma manifestação do próprio deus.
    Retornando ao ponto fulcral de nosso trabalho, comecemos pelos pressupostos basilares do Gnosticismo, ou da doutrina gnóstica.
    O ponto de partida para a revelação da verdade portanto a compreensão de si e do mundo para o gnóstico implica em três pilares ou pontos de apoio:

    O primeiro é o Nascimento, que consiste na quebra radical da dualidade entre o Masculino e o Feminino que se dá através da transmutação de nossas energias vitais, resgatando o Sagrado presentificado através da união entre homem e mulher, uma reverencia a “jóia seminal”, o Logos Divino-Humano, gerador da Criação.
    O segundo é a Morte, que consiste em compreender a morte como desprendimento total da matéria, liberdade absoluta. Nesse sentido, a Morte é a fonte do transcendente, o canal de aperfeiçoamento pleno dos espíritos humanos e sua aquisição de poder sobre as imperfeições do mundo material.
    O terceiro é o Sacrifício, que consiste em uma adesão absoluta ao sacrifício pessoal em favor da Humanidade, a erradicação do egoísmo, a Chave da felicidade, a Gnose, em outras palavras: um conhecimento supremo revelado ao homem ainda em vida, através do novo despertar, o Nascimento que brota de seu interior e em seguida o leva a morte, que simbolicamente representa o domínio sobre as paixões e a superação dos males do mundo material, para que por fim, o homem possa torna-se em um ser divino, um ser iluminado pelo conhecimento de si mesmo e do Universo de Deus, encontrando a harmonia perfeita entre o Criador supremo e o próprio ser-humano enquanto criatura de Deus, e a natureza, as coisas criadas que englobam todo o mundo material.
    Apesar de parecer um ensinamento pouco conhecido, o Gnosticismo foi nos primeiro Séculos depois de Cristo, a principal e mais popular doutrina cristã difundida no Império Romano. Se arrefecimento se deu através de um plano político em executado pelo Imperador Constantino, que pragmaticamente adotou o cristianismo institucional como religião oficial no intuito de favorecer a manutenção e consolidação de seu poder.
    Certamente o gnosticismo não favorecia o poder politico por ser ele uma filosofia da transcendência, voltada para a ética humana e sem pretensões políticas, pois não trazia em seu bojo doutrinário a preconização de um Reino de Deus, com uma elite sacerdotal como mediadores desses reino, exercido em uma primeira instancia aqui na terra, como foi o caso do Cristianismo Oficial, conhecido como a religião Católica, que  com este viés de militância política, conseguiu se perpetuar  como religião até os dias de hoje.
   A moção político-pragmática de Constantino não conseguiu vencer a doutrina gnóstica, e foi preciso que o Imperador convocasse um concílio no ano de 325 depois de Cristo, o Concílio de Nicéia, ali naquele Concílio o gnosticismo seria, oficial e ideologicamente declarado como doutrina herética e decretada a morte de seus seguidores, bem como a queima de todos os seus livros, que por deliberação do Concílio de Nicéia, foram considerados livros apócrifos.
    É interessante compreender o motivo pelo qual o cristianismo atual conseguiu frear o crescimento do gnosticismo, entre os principais motivos, estaria a questão da visão de Cristo como um ser Divino, um messias político que entregara seu reino ao Sacerdócio Romano prometendo voltar um dia. Disto pode-se concluir que o motivo foi essencialmente político, o descarte do gnosticismo se deu pelo fato de que era um movimento filosófico cristão e não algo que pudesse se institucionalizar e aliar-se ao poder do Império favorecendo o controle das massas.
    No gnosticismo, nunca houve espaço para o fortalecimento do poder em suas doutrinas -pois ao invés de pregar um homem de natureza caída, condenado ao inferno e à espera de um salvador- tendo em vista que o cerne de sua doutrina é fortalecer o homem gerando nele uma consciência autônoma de senhor e salvador de si mesmo, mediante o desenvolvimento de suas potencialidades e virtudes, que o conduzem em direção ao Despertar do que há de mais divino no humano em nós.
    Mas felizmente, graças a Divina providencia, apesar de toda perseguição e obstrução desenfreada contra o gnosticismo ainda podemos encontrar nos dias de hoje, suas literaturas, como o Evangelho de Tomé e o Evangelho de Maria Madalena entre tantas outras. Ainda também, conseguimos encontrar os ensinamentos basilares do gnosticismo presentes em diversas religiões, entre elas gostaria de destacar o Espiritismo e no que concerne a Ordens Iniciáticas destaco a própria Maçonaria, guardiã fiel da doutrina e sabedoria gnóstica através dos séculos.
 O esclarecimento pregado pelo gnosticismo é fomentado pela filosofia maçônica, que tem por objetivo libertar o homem dos grilhões da profanidade, elevando sua mente e preparando seu espirito para a revelação ou ‘gnosis’ das verdades sagradas que remetem e integram o ser do homem a Deus e a natureza, em consonância com a Antiga Advertência, apreciada também pelo Sábio Sócrates:
"Te advirto, quem quer que sejas,
Oh, tú! Que desejas sondar os Mistérios da Natureza.
Como esperas encontrar outras excelências,
Se ignoras as de tua própria casa?
Em ti, está oculto o tesouro dos tesouros.
Oh, homem! Conhece a Ti mesmo
E conhecerás o Universo e os Deuses".






Will Jackson Santos de Oliveira, COMP.’. M.’. Cad. 3.818 da
A.’.R.’.L.’.S.’.  Eliezer Sá Peixoto Nº29  Oriente de Rio Largo/Al., jurisdicionada a Mui e Respeitável Grande Loja do Estado de Alagoas - GLOMEAL)


Referências:

http://ensinadorcristao.blogspot.com.br/2009/07/o-que-e-o-gnosticismo.html
http://www.cursosdemagia.com.br/concilio.htm
http://www.gnose.org.br/os_gnosticos_na_historia/
Introdução à Filosofia da Religião, Trad. Adail Ubirajara Sobral, Maria Stela Gonçalves. São Paulo, Edições Loyola, 1996, p. 20.
Ritual de Companheiro – Rito Escocês Antigo e Aceito, 2012. p.59. Acessado em: 24/02/2017