ÀG.’. D.’. G.’.A.’.D.’.U.’.
A
VIDA MORAL E A GRAÇA DE DEUS EM SANTO AGOSTINHO
Neste
trabalho relativo a terceira instrução do Grau de Companheiro Maçon, pretendo
abordar de forma singela a temática da virtude agostiniana, tomando como base
um pequeno trecho da página 84 do Ritual de Companheiro ( ano 2012) que assim
reza:
“Filósofos célebres e grandes sábios têm
permanecido profanos por não terem compreendido o que obscuros pensadores
conseguiram discernir por si próprios, à força de refletirem no silêncio e no
recolhimento”.
Esse trecho em
particular, refere-se a incompreensão da finalidade do saber ético, adquirido
através da meditação e do recolhimento; do exercício da interioridade: a
felicidade e o reconhecimento da inspiração e graça divina por trás dos atos
humanos.
É
bastante notável a importância da abordagem de Agostinho (354-430 d.C.) ,
filósofo nascido em Tasgate de Numídia, província Romana ao norte da África, sobre
a natureza das motivações humanas no que tange a moral e a ética. As investigações
filosóficas de Santo Agostinho no campo da moral, ainda hoje gozam de autoridade
e prestígio, sendo objeto de consulta e utilizado por filósofos renomados e
autoridades no assunto.
Para
os filósofos antigos, a ética teria como finalidade o bem supremo, que seria a
felicidade. Porém, mesmo seguindo a linha de raciocínio dos antigos filósofos
sobre a ética, a virtude e a felicidade, Agostinho percorre um caminho distinto.
O caminho trilhado por Agostinho está sempre sob a influência do pensamento cristão,
utilizando como fundamento de sua fé, a autoridade das escrituras em seu
sistema de crenças.
Agostinho
acredita que todos os homens desejam por natureza serem felizes, contudo, segundo
ele, somente Deus poderia proporcionar a felicidade ao homem. Na concepção do
filósofo, a felicidade pode ser alcançada em sua plenitude na eternidade com
Deus, pois ainda segundo ele, seria na eternidade, que o homem gozaria de sua
plenitude, através da união com Deus. Com isso, Agostinho passa a conferir ao
resultado das ações humanas uma perspectiva eterna, onde o homem seria
recompensado por Deus com a felicidade, mediante suas boas ações.
Porém,
diferentemente dos antigos filósofos, que acreditavam que o homem podia atingir
a felicidade e libertar-se dos vícios e dos males através do uso da razão e do
intelecto, tornando-se virtuosos, Agostinho afirmava que o homem por si mesmo
era incapaz de tornar-se feliz. Para
ele, a natureza pecaminosa do homem o privava da graça de Divina, e era
justamente a graça de Deus que conduzia o homem a virtude proporcionando-lhe a
felicidade. A graça de Deus aniquila toda e qualquer possibilidade humana de
alcançar a felicidade através das boas ações.
Se
algo de bom ou virtuoso habita no homem, não foi devido aos seus próprios
méritos, mas devido ao favor de Deus. Esse modo peculiar de Agostinho em avaliar
e
julgar as ações humanas, tem sua
gênese na crença bíblica da graça salvadora através do Cristo, onde as ações
humanas são justificadas apenas em Deus e somente Nele:
|
A
graça seria portanto o favor de Deus
para com o homem, uma dádiva que parte de Deus para o homem e o conduz a
virtude. Todavia, deve-se entender aqui a concepção de salvação, no sentido de felicidade
na eternidade.
Agostinho
dá primazia a caridade ao invés da sabedoria louvada entre os gregos e ressalta
que a prática da virtude entre os não cristãos seria uma forma de exagero do
poder da autossuficiência, pois eles desejam todo o crédito pela virtudes que
possuem e pela felicidade alcançada.
Em
Agostinho a caridade ou amor é denominada virtude original, numa tentativa de
ressaltar a relevância da moral cristã. Santo Agostinho chama as boas ações
feitas pelos pagãos em prol de seu semelhante ou de sua comunidade, de virtudes
“cívicas”. O bispo de Hipona afirma ainda que,as ações virtuosas dos povos pagãos,
não seriam autênticas, mas um mero ato cívico que possui o egoísmo como
princípio norteador de tais ações.
Independentemente
de suas condições sociais e graus de intelectualidade, os homens mais pervertidos
e imorais podem tornarem-se virtuosos,entretanto, os mesmos devem reconhecer
sua incapacidade de conduzir as suas
vidas virtuosamente e sem vícios, se
arrependendo dos seus pecados.
Algo
que é recorrente em Agostinho a respeito da moral,é o fato é a ênfase no declínio
moral da raça humana, advinda da quebra
do relacionamento com Deus. A graça de Deus é concebida por Agostinho como o favor
imerecido de da divindade para
com
o homem e as virtudes autênticas inspiradas no amor de Deus se dão por
intermédio dos méritos de cristo.
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Em
suma, em sua análise crítica, o filósofo Santo Agostinho nos exorta a não nos
envaidecermos, e cairmos no pecado da autoglorificação do ego e do narcisismo
de nossas próprias virtudes, lembrando-nos a compreender nossas boas ações como
ações inspiradas por Deus, com o objetivo de glorifica-lo ao invés do culto ao
nosso próprio Eu.
Will Jackson Santos de Oliveira, COMP.’. M.’. Cad. 3.818 da
A.’.R.’.L.’.S.’. Eliezer Sá
Peixoto Nº29 Oriente de Rio Largo/Al., jurisdicionada a Mui e Respeitável
Grande Loja do Estado de Alagoas - GLOMEAL)
REFERÊNCIAS:
ALMEIDA, J.
F. (tradutor). Bíblia, Efésios, Cap.
2:8-9. Versão pentecostal, 1997.
McGrade, A.
S. Filosofia medieval. Aparecida, SP.
Ideias e Letras, 2008. [tradução de André Oídes]
Ritual de Companheiro – Rito Escocês
Antigo e Aceito, 2012.
p. 84