A venda sobre os olhos do Neófito; símbolo da ausência de luz.
Neste trabalho, pretendo discorrer de forma breve, sobre o significado da venda sobre os olhos do iniciado, tomando por base as páginas 112 e 113 do Ritual de Aprendiz do Rito Escocês Antigo e Aceito, para refletir juntamente com os irmãos sobre a correlação da venda nos olhos do neófito e sua relação com a necessidade de iluminação.
Ora, desde tempo imemoriais, as mais antigas religiosas adotaram o conceito de luz, como um elemento antagônico à escuridão, a partir do pressuposto da dualidade entre luz e trevas. O raiar do dia, ao revelar o imponente surgimento do Sol, representava a esperança e a vida para os antigos. A Luz do sol garantia-lhes o sustento diário ao nutrir-lhes a colheita, e por isso era também símbolo da preservação da vitalidade da natureza.
Possivelmente um dos primeiros astros a receber adoração-senão o principal- tenha sido o Sol, sua forte presença e simbolismo é encontrado de forma incontestável entre muitas das principais religiões, praticadas e assimiladas pelas antigas civilizações mais conhecidas como Babilônia, Pérsia, Egito, Grécia e Roma.
Dos cultos solares da pré-história, o conceito de luz passa a assumir um significado mais específico, ao ser assimilado pelas grandes civilizações da antiguidade. Vale mencionar aqui, a lenda grega de Ícaro, um jovem ousado e sonhador, que, ao tentar alçar voos cada vez mais altos em direção ao sol, acaba sucumbindo sobre as águas do mar Egeu, tendo os seu planos frustrados diante da majestade do astro inacessível.
A partir dessa lenda, podemos perceber o quanto os antigos eram fascinados pelo Sol, mas, no entanto, de certa forma, conscientes de sua impossibilidade- mesmo com o uso de diversos artifícios e engenhosidades- de aproximar-se do mesmo. Apenas restava-lhes o consolo da contemplação. Porém, na medida em que o conhecimento cosmológico dos antigos avançava, eles se deram conta da impossibilidade de aproximação desse astro poderoso, e o espírito humano, com sua capacidade inventiva, não se deixou abater, trazendo o Sol para o seu cotidiano, providenciam-lhe um caráter representativo de cunho esotérico. Tal caráter representativo assumiu diversas formas de interpretação em diferentes culturas e religiões. A partir dai, o Sol passa a assumir o significado de fonte de iluminação interior dos homens.
O judaísmo e o cristianismo também adotam este mesmo significado, transferindo a ideia de um astro fonte de luz, que é inalcançável e distante, aproximando-o do homem e atribuindo-lhe um valor subjetivo e espiritual. Neste sentido, o astro rei passa a representar a presença de Deus e sua luz, a iluminar a alma do homem. Ainda no judaísmo, vemos Sol representando a justiça e o favor divino: “ Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.” ( Sl 84.11) No novo testamento, Deus é chamado de o Pai das luzes, cuja bondade ilumina o coração de todo homem benevolente e amoroso: “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação”. ( Tg 1.17)
A partir disso, pode-se constatar, que a figura do Sol assume um sentido mais profundo, o Sol, deixa de ser considerado algo etéreo e inacessível, e passa assumir o caráter de um Deus pessoal que inspira os atos humanos através da iluminação de suas consciências. Espiritualmente, o Sol representa o Ser supremo, e a sua glória, a iluminação da alma humana. A alegoria da caverna, do filósofo grego Platão, nos dá uma pista da importância da luz, no cotidiano dos antigos. A alegoria, fala sobre, a eminencia da Luz maior, o Sol, que incidia sobre a caverna. Aprendemos através da alegoria da caverna, que por mais eficiente que seja, a luz artificial jamais será suficiente para satisfazer as necessidades espirituais humanas. Sem o auxilio da luz maior, o G.’.A.’.D.’.U.’., o homem não exercita seu pendor para a liberdade, mas mantem-se aprisionado, de costas para a luz divina, e suas virtudes não atingem uma maior dimensão e amplitude, porque são virtudes mal iluminadas, aprendidas apenas de forma bruta e tosca, através de projeções de sombras- apenas simulacros- que lhes são apresentadas, estando diante deles.
A alegoria de Platão nos diz , que certo dia, um dos prisioneiros consegue sair da caverna e conhece o mundo real, têm dificuldades quanto á enxergar devido ao tempo em que esteve sem contato algum com a luz do Sol. O ex habitante da caverna consegue se adaptar ao mundo real, mas ao retornar a caverna com a ânsia de anunciar a novidade aos seus companheiros, é descrido e assassinado por eles . Isso no ensina, que, quando os iluminados conhecem a luz, ascende-lhes logo um desejo altruísta de convidar os seus amigos que vivem acorrentados e iludidos pelas sombras -oriundas da projeção da luz menor ( o fogo) - a conhecer o mundo real, iluminado eminente pela luz divina.
No entanto, mesmo na maior das intenções, corre-se o perigo de perder a própria vida em defesa da verdade. A ignorância e o preconceito alimentam o medo e inviabilizam a iluminação das mentes profanas, ao ponto de tornar-se até mesmo perigosa a empresa de anunciar as boas novas da verdade do G.’A.’.D.’.U.’.. As palavras de São João, o discípulo amado de Jesus, sintetizam de modo categórico, a resistência do mundo profano a luz da verdade: “E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” ( Jo 3. 19-21) Mas, de tudo o que foi exposto acima, afinal de contas, o que tudo o que isto foi dito, tem a ver com a venda nos olhos do neófito? A resposta é simples: tudo a ver.
Há uma relação intrínseca entre o Sol representando o G.’.A.’.D.’.U.’., e a sua Luz revelada ao neófito, quando depara-se com uma das luzes divina no templo sagrado; à saber: o livro da Lei. Ali está - simbolicamente- inserido o conhecimento sagrado, que conduz o homem a iluminação, conforme expressa o salmista Davi “ Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho” ( Sl 119.105) Ali, ao desvendarem-lhe os olhos do neófito, as trevas da ignorância e dos preconceitos do mundo profano são ofuscadas, e iluminado pela glória do G.’.A.’.D.’.U.’., com o auxílio de seus irmãos, o neófito estabelecerá uma conexão autêntica com a luz maior que é Deus, imponente, iluminando o interior do templo físico, e nos conduzindo, as boas obras de justiça e amor, mesmo estando fora do templo, porque o verdadeiro templo do altíssimo somo nós; e a sua glória, ao incidir em nossos corações, irradia a vida dos nossos semelhantes onde quer que estejamos, pois somos o testemunho vivo da bondade divina, o templo vivo e móvel que leva a luz do G.‘.A.’.D.’.U.’. as pessoas.
O caminho da luz, é o despertar à serviço do bem da humanidade, é ter na alma a disposição ao melhoramento de si mesmo e do mundo, por que a missão do maçom é fazer a humanidade feliz. É também, dispor o seu braço a esse ideal augusto de tornar feliz a humanidade, cedendo o coração em favor de seus irmãos: isto é a essência da maçonaria e a luz que ela difunde através de sua sagrada filosofia: a eliminação do egoísmo humano, tornando-o luz para o mundo egoísta e em trevas, ao transmitir o amor do G.’A.’.D.’.U.’. expresso sob a forma de generosidade. Termino este trabalho, com as palavras do sábio Cientista e humanista, Albert Einstein, para nossa reflexão: “ Meço o valor de um homem pela medida em que se liberta de seu próprio eu” .
Will Jackson Santos de Oliveira, Apr.’. M.’. Cad. 3.818 da A.’.R.’.L.’.S.’. Eliezer Sá Peixoto Nº29 Oriente de Rio Largo/Al., jurisdicionada a Mui e Respeitável Grande Loja do Estado de Alagoas - GLOMEAL)
Referencias: A república de Platão – 6ª.,ed, ed. Atena,1956,p.287- 291 http://aslendasdamitologiagrecoroma.blogspot.com.br/ Acessado em: 30/07/2016 http://pensarerelaxar.blogspot.com.br/2010/11/frases-e-pensamentos-de-albert-einstein.html Acessado em: 30/07/2016 Ritual d Aprendiz – Rito Escocês Antigo e Aceito, 2012. p. 195-197. www.bibliaonline.com.br ( Salmos 84.11 ) Acessado em: 30/07/2016 www.bibliaonline.com.br ( Tiago 1.17) Acessado em: 30/07/2016 www.bibliaonline.com.br ( S. João 3. 19-21) Acessado em: 30/07/2016 www.bibliaonline.com.br ( Salmos 119.105 ) Acessado em: 30/07/2016